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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 28, 2014

Cônsul de Cuba em São Paulo: "EUA lucra com multas a países que têm vínculos com Cuba"


A matéria é do dia 24 de outubro. A votação do bloqueio, que a Cônsul fala, aconteceu hoje. Leia mais aqui

Por Théa Rodrigues no Vermelho

Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) deve votar novamente a questão do bloqueio norte-americano a Cuba. No ano passado, com 188 votos a favor e apenas dois contra (Israel e Estados Unidos), a Assembleia reiterou o seu apelo pelo fim deste impasse que já dura mais de meio século. O Portal Vermelho entrevistou Ivette Martínez Leyva, cônsul de Cuba em São Paulo, que falou sobre a necessidade de acabar com essa política.

Portal Vermelho: A Assembleia Geral das Nações Unidas já votou contra o bloqueio norte-americano a Cuba por 22 vezes, 188 países foram a favor desta resolução no ano passado. Qual a perspectiva para a votação deste ano?

Ivette Martínez Leyva: Desde novembro de 1991, Cuba apresenta na Assembleia Geral das Nações Unidas a resolução “Necessidade de colocar fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro dos Estados Unidos contra Cuba”. Durante 22 anos consecutivos, a moção cubana teve respaldo da maioria dos países membros. No próximo dia 28 de outubro, quando o foro da ONU votar a resolução cubana, esperamos obter uma nova vitória política, mantendo os 188 votos a favor da suspensão, alcançados em 2013.

Cuba sofreu perdas de mais de 1 bilhão por conta do bloqueio imposto pelos Estados Unidos, uma política que se mantem e m sua totalidade. O presidente Barack Obama, assim como seus antecessores, não fez nada além de reforçar sua aplicação, sem poder justificar sua implementação.

Em que medida a posição da Assembleia Geral da ONU pode contribuir para pôr fim ao bloqueio?


O voto quase unânime na ONU dá a Cuba um apoio categórico e demonstra com nitidez aos Estados Unidos que ele está sozinho na implementação desta política. A realidade demonstrou que o governo norte-americano tem sido omisso em relação ao respaldo internacional a Cuba em sua denúncia contra esta política genocida. A administração do presidente Obama, por exemplo, quis passar uma imagem de flexibilização em relação a Cuba, mas as cifras demonstram que as restrições são iguais ou superiores àquelas impostas por seus antecessores.

Não só os membros da Assembleia Geral, mas a opinião pública norte-americana também demonstrou seu rechaço a política de bloqueio, inclusive o jornal New York Times se pronunciou contra a falida política anticubana.

O bloqueio segue tendo impacto na vida dos cubanos. Quais são os mais prejudiciais?


Entre os exemplos mais concretos deste impacto podemos destacar a questão da saúde. As crianças cubanas que sofrem de câncer de retina não podem ser beneficiadas pelo tratamento ocular, porque as placas de iodo radioativo necessárias para este tratamento são produzidas exclusivamente pela empresa estadunidense 3M.

Na área artística se estima que o efeito econômico, no período de um ano, supera os 22 milhões de dólares. Sua aplicação extraterritorial impede também a adequada promoção, difusão e comercialização do talento artístico cubano.

No setor agrícola as perdas ocasionadas no período de maio de 2013 até maio de 2014 superam os 307 milhões de dólares. Entre os principais prejuízos estão o remanejamento de mercados para a importação dos insumos para a indústria alimentícia, o que provoca um encarecimento de custos e gastos adicionais por frete marítimo, assim como a proibição da utilização do dólar comercial nas transações.

Existem muitos outros danos que poderia citar.

Alguém lucra com o bloqueio a Cuba?

Segundo o informe de Cuba sobre o bloqueio, de 2009 até 2014, a administração de Obama multou 36 entidades norte-americanas e estrangeiras em mais de 2 bilhões de dólares, por manter vínculos com Cuba.

Como denunciamos em todos os cenários internacionais possíveis, o bloqueio, além de ilegal, é moralmente insustentável, sem antecedentes de um sistema de sanções unilaterais similar por um período tão prolongado.

A União Europeia revê suas posições e melhora as relações com Cuba. Os países da Celac condenaram, de forma unânime, o bloqueio. O secretário-geral da OEA esteve na ilha pela primeira vez desde a suspensão do país do organismo. Essas ações demonstram uma maior aproximação mundial em relação a Cuba? Isso significa o isolamento dos EUA?


Exatamente, a União Europeia e a OEA revisaram sua política e suas posições sobre Cuba, encaminhadas a uma melhoria e uma relação de cooperação. O governo dos Estados Unidos, pelo contrário, leva mais de cinco décadas isolando o país das relações econômicas, políticas, sociais e culturais com outros países. Contudo, o fracasso desta política se evidencia cada vez mais, pois Cuba mantém relações diplomáticas com 184 dos 192 membros da ONU.

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