Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, outubro 27, 2014

O povo escolheu quem não vai jogar a conta da crise nas costas do BRASIL!




Captura de Tela 2014-10-26 às 23.41.10
Discurso de Dilma após vitória
Foi uma vitória épica de Dilma, não pelos números, definitivamente apertados, mas pelas circunstâncias em que ela ocorreu.
Dilma teve tudo contra ela.
Primeiro, uma mídia sempre disposta a miná-la, ou com certa sutileza, como fez a Globo, ou com total despudor, como foi o caso da Veja.
O ponto máximo dessa guerra da imprensa contra Dilma se deu a dois dias das eleições, quando a Veja antecipou uma capa com acusações gravíssimas contra ela e Lula sem prova nenhuma.
Mais uma vez – não por coincidência – explodiram denúncias estrepitosas de corrupção às vésperas das eleições.
Tem sido sempre assim.  Os escândalos ganham as manchetes na hora em que os brasileiros pegam seu título de eleitor na gaveta.
A grande inovação, neste campo, veio de Dilma.
Ela encontrou um argumento que a fez sair da defesa para o ataque: mostrou, com clareza, quanto era oco o discurso moralista do PSDB.
A única diferença a favor dos tucanos, demonstrou Dilma, é que a corrupção do PSDB ao longos dos tempos não é noticiada e nem punida.
Da compra de votos para a reeleição de FHC ao dinheiro público posto por Aécio na construção de um aeroporto para uso privado, é extensa a lista de casos de delinquência tucana varrida para debaixo do tapete.
Dilma expôs a corrupção sob um novo ângulo, o do cinismo farisaico, e isto contribuiu poderosamente para sua vitória.
Daqui por diante, é presumível que os conservadores brasileiros procurem um novo caminho para atacar a esquerda, uma vez que o moralismo foi desmascarado espetacularmente depois de vitimar, no passado, Getúlio e Jango.
Dilma teve que enfrentar também durante sua campanha uma dramática crise econômica mundial, da qual país nenhum – nem a China  – conseguiu escapar.
Seus adversários – de Aécio aos colunistas econômicos — tentaram ardilosamente atribuir a ela os problemas econômicos decorrentes da crise mundial, como se o Brasil fosse um patinho feio em meio a cisnes belos e felizes.
No debate econômico, particularmente, Dilma teve a seu favor a internet — o jornalismo digital. Milhões de brasileiros encontraram em sites jornalísticos independentes contrapontos ao discurso único das grandes empresas jornalísticas.
Dilma não terá tanto tempo assim para comemorar. 2015 vai ser um ano duro. A economia mundial continuará em crise, e o Brasil vai ter que lidar com isso.
Diante dessa perspectiva, os eleitores, ou por cálculo ou por instinto, fizeram a escolha melhor para eles.
No modelo representado por Aécio, a conta de uma crise é posta nas costas dos chamados 99% — o povo.
O nome bonito que se dá à pancada no povo é “ajuste”. Você corta custos de programas sociais, aumenta os juros para diminuir o consumo e frear a inflação – e ao fim de tudo isso brota  uma recessão que ceifa empregos e massacra os salários.
Num momento de rara franqueza pouco antes da campanha, Aécio prometeu a empresários “medidas impopulares”.
No modelo representado por Dilma, há um esforço concentrado para poupar ao máximo os trabalhadores dos efeitos de uma crise.
A voz rouca das ruas fez a escolha por quem a protegerá mais – e quem poderia culpá-la por agir assim?
(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário