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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, outubro 26, 2014

Ex-agentes da ditadura argentina são condenados à prisão perpétua

Acusados por crimes contra a humanidade cometidos há mais de 30 anos, 15 réus recebem pena máxima e quatro ficarão presos por até 13 anos. Entre os atos crueis está o sequestro de bebês de militantes políticas.
Miguel Etchecolatz, antigo chefe de polícia de Buenos Aires, é retirado da corte após ouvir sua sentença
A Justiça argentina condenou à prisão perpétua 15 ex-agentes do governo militar por crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura no país, tais como tortura, assassinato e sumiço de dissidentes entre os anos de 1976 e 1983.
Quatro outros acusados também foram condenados à prisão, com penas variando entre 12 e 13 anos em regime fechado. Apenas dois réus foram inocentados, de acordo com a sentença lida nesta sexta-feira (24/10).
Organizações de direitos humanos acompanharam a leitura da sentença no Tribunal Oral Federal n°1 da cidade de La Plata, na província de Buenos Aires.
Segundo os juízes, os réus foram condenados à pena máxima por sua "cumplicidade no genocídio" durante a ditadura e por crimes cometidos no centro clandestino conhecido como "La Cacha", localizado na cidade. O local funcionou como centro de tortura e prisão entre 1976 e 1978, e também como maternidade clandestina de presas.
O julgamento dos acusados teve início em dezembro do ano passado. Entre eles há ex-integrantes das Forças Armadas, do governo da província de Buenos Aires, da polícia e do serviço penitenciário local.
Calcula-se que cerca de 30 mil pessoas – a maioria militantes políticos e trabalhadores – tenham sido sequestradas, torturadas ou mesmo assassinadas durante os sete anos da ditadura militar Argentina.
Luta das avós da Praça de Maio
Entre as vítimas dos crimes da ditadura está Laura Carlotto, filha da presidente da Associação de Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto. Militante da oposição, Laura teve o filho recém-nascido tomado pelos militares pouco antes de sua execução, em 1978. O menino foi levado para adoção e, apenas em agosto deste ano, testes de DNA comprovaram o parentesco de Ignacio Guido Montoya com a avó, após 36 anos de separação.
Presidente argentina Cristina Kirchner mostra a Estela documento de seu neto Ignacio, desaparecido durante 36 anos
"Temos a tranquilidade de saber que os repressores passarão presos todo o tempo que ainda lhes resta de vida", declarou Estela à agência de notícias Télam.
As Avós da Praça de Maio já conseguiram encontrar 114 filhos de oposicionistas desaparecidos durante os anos de chumbo na Argentina. No entanto, estima-se que outros 400 ainda continuem sem saber sua verdadeira identidade.
MSB/rtr/ap/efe

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