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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, dezembro 22, 2014

A heroína do Fantástico e a Venina do Linkedin… Duas vidas diferentes?

: Fernando Brito


venina1a
Depois de aceitar que Paulo Roberto Costa passou ao menos três anos roubando “enojado” e “enojado” continuava recebendo parcelas de propinas por contratos mesmo depois de ter sido afastado da empresa, agora temos a história mais que capciosa de D. Venina Fonseca, a quem não posso, por desconhecimento, acusar de nada – a Petrobras não abriu os detalhes dos processos interno que correm contra ela, embora ela tenha ido ao Fantástico acusar a presidente da empresa de cúmplice de todos os malfeitos da empresa.
Mas posso, como qualquer jornalista deveria fazer, comparar o que ela disse na televisão com o que é, segundo ela própria, sua carreira na empresa.
Segundo a transcrição da entrevista feita pelo Diário do Centro do Mundo, ela diz que “eu trabalhei junto com Paulo Roberto, isso eu não posso negar. Na diretoria de abastecimento, a partir de 2005″.
Não é verdade, segundo a própria Venina informa em seu currículo no Linkedin.
Lá, consta que ela era – o texto eu cito em inglês, como está escrito – “Manager, Implementation of Integrated Management Systems at Natural Gas Logistics Supervision Centre. De “ –  (2 years 1 month)“.
Ora, de 2001 a 2003, Paulo Roberto Costa era responsável pela Gerência Geral de Logística da Unidade de Negócios Gás Natural da Petrobras…
Depois, segundo a própria Venina, em  seu Linkedin, foi ser “Assistant Manager to the Downstream Director’s Office” (diretor de abastecimento), em maio de  2004.
Paulo Roberto Costa assumiu a diretoria de abastecimento em… 14 de maio de 2004.
Não seria justo inferir ligações anteriores, mas é a própria Venina quem documenta que não foi “na diretoria de Abastecimento, a partir de 2005″, mas que durante ao menos sete anos era auxiliar de confiança de Paulo Roberto Costa.
Mais adiante, Venina diz:
“A opção que eles fizeram em 2009 foi realmente me mandar para o lugar mais longe possível, isso está entre aspas, onde eu tivesse o menor contato possível. Com a empresa, aparentemente eu estaria ganhando um prêmio indo para Cingapura, mas o que aconteceu foi que realmente quando eu cheguei lá me foi dito que eu não poderia trabalhar, que eu não poderia ter contato com o negócio, era para eu procurar um curso”.
De fato, Venina foi para Cingapura, como “Chief Executive Officer, PM Bio Trading Pte Ltd”, uma joint-venture entre a Petrobras, a Mitsui e a empreiteira Camargo Correia, empresa subordinada a… Paulo Roberto Costa, o diretor de Abastecimento, o enojado …
Quando PRC cai, Venina não é perseguida, mas promovida.
Passa a diretora-gerente (“Managing Director, Petrobras Singapore Private Limited”).
E, segundo ela própria, com amplos poderes pois assim ela define suas funções, desde então:
“Responsável por conduzir o aumento das receitas junto com as margens de lucro e ser responsável por todos os contratos, a evolução dos negócios, as principais partes interessadas e clientes. – Reestruturação de toda a unidade, que resultou em significativa redução de custos e aumentando o lucro líquido três vezes nos primeiros seis meses de nomeação. – Liderou s Petrobras Singapore (PSPL) para atingir um lucro líquido recorde de US 59,5 milhões  em 2012 de US $ 18 milhões em 2011, e, posteriormente, outro avanço no lucro líquido, de US $ 184 milhões em 2013″
Nada de ficar “encostada”, portanto. E muito menos de viver trancada, numa situação de quase “escrava branca”, algo que justificasse a melodramática declaração ao Fantástico de que ” me afastar(am) do meu país, das empresas que eu tanto gostava, dos meus colegas de trabalho. Eu fui para Cingapura, eu não vi minha mãe adoecendo. Minha mãe ficou cega, transplante de coração, eu não pude acompanhar minha mãe. Meu marido não pôde mais trabalhar, ele teve que retornar.”
O marido de Venina, Mauricio Luz, também segundo o seuLinkedin, “had been lived in Singapore from january 2010 to june 2012, working as a consultant and helping to implement the Braskem office in Singapore“.
A Braskem é uma empresa que tem, entre os principais acionistas … a Petrobras, com 47% e a Odebrecht, com 50%.
A saída de Luz, também casualmente, coincide com a queda de Paulo Roberto Costa.
Não se faz aqui, como se viu, nenhuma acusação a Venina, porque seria um absurdo acusar, como ela faz, alguém de irregularidades e cumplicidades sem ter provas cabais disto.
Mas não é possível afastá-la de todo deste caso. Ela estava dentro dos esquemas de Paulo Roberto ou, pelo menos, aceitou-os.
O Brasil está mesmo virando uma fábrica de “santinhos”
*Tijolaço

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