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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, agosto 01, 2015

o Bodão, ‘dono’ do tráfico de drogas da favela do Chapadão durante a década de 1990, são hoje os principais nomes do badminton brasileiro.

Morro da Chacrinha teve duas atletas medalhistas



madalhistas


Walmyr Junior conta a história de superação das jogadoras de badminton Lohaynny e Luana Vicente, filhas do Bodão, ‘dono’ do tráfico de drogas do Chapadão durante os anos 1990, e morto durante tiroteio em 2002. “Assim como a história das irmãs medalhistas, muitas outras histórias precisam ser contadas. A superação da pobreza e da vida marginalizada é um roteiro que descreve a superação de muitos outros atores na favela”, diz, para concluir: “Precisamos de mais investimento em projetos que giram em torno do empoderamento, da formação educacional e da capacitação técnica atrelados a políticas públicas de esportes. Não podemos achar que só o futebol transforma vidas dentro da favela”
Por *Walmyr Junior, para o Jornal do Brasil
Medalha da favela no Pan-Americano
Uma história emocionante que nasceu no morro da Chacrinha se tornou conhecida recentemente pelos feitos heroicos das medalhistas do Pan Lohaynny e Luana. As irmãs, que são filhas de Sandro de Oliveira Vicente, o Bodão, ‘dono’ do tráfico de drogas da favela do Chapadão durante a década de 1990, são hoje os principais nomes do badminton brasileiro.
Medalhistas de prata no Pan-Americano, as atletas fizeram chegar aos jornais internacionais sua história de superação. Como seu pai era alvo de operações policiais, as meninas e sua mãe, Cátia Mendes de Oliveira, sofreram na pele o cotidiano do morador da favela, já narrado diversas vezes por mim e por meus colegas desta coluna.
Em uma operação policial em 2002, no Chapadão, o futuro das meninas foi mudado. Seu pai foi encontrado e acabou morto pela polícia em uma troca de tiros. Com o falecimento do pai, as meninas e sua mãe se mudaram para a favela da Chacrinha, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Era o começo de uma nova vida surgida em um projeto social que tinha o badminton como opção esportiva para as crianças do morro.
A história das meninas se assimila a de tantos outros que, através do esporte, transformam suas vidas. Craques do futebol como Ronaldo, Adriano e Emerson Sheik também foram moradores de favela. Uma pena que o investimento nos esportes não possibilita que mais meninos e meninas da favela tenham o mesmo futuro que os atletas aqui mencionados.
Assim como a história das irmãs medalhistas, muitas outras histórias precisam ser contadas. A superação da pobreza e da vida marginalizada é um roteiro que descreve a superação de muitos outros atores na favela. Somos marcados pelo abandono, pela falta de políticas públicas e constantemente rifados por projetos sociais que visam meramente o lucro em cima da pobreza alheia.
Precisamos de mais investimento em projetos que giram em torno do empoderamento, da formação educacional e da capacitação técnica atrelados a políticas públicas de esportes. Não podemos achar que só o futebol transforma vidas dentro da favela.
Como já dizia os Titãs: “A gente não quer só comida. A gente quer a vida como a vida quer”
*Walmyr Júnior, morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor e representante do Coletivo Enegrecer como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.


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