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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, julho 11, 2010

Espanha venceu a Copa






O Brasil está batendo um bolão

Torci para a Holanda, para que, vencendo, tivéssemos perdido para o melhor time da Copa. Mas não me decepcionei. Foi um belo espetáculo que aquele time deu, mesmo perdendo para o da Espanha. A técnica superior de um venceu a garra inesgotável do outro. Em termos de futebol, fico feliz por ter vencido o melhor.

Mas ao ver a festa espanhola em Madrid pela televisão logo ao fim do jogo, não pude deixar de refletir sobre esse fenômeno louco e inexplicável que faz os povos esquecerem de tudo, de seus sofrimentos e frustrações cotidianos, unindo-os em torcidas análogas em toda parte.

Este país tem que encontrar uma forma de canalizar essa energia imensa que une nações inteiras, que alenta a dureza da vida de um povo como o nosso, que lhe concede, ao ver sua seleção vencer, essa sensação de que, junto aos “gladiadores” em campo, cada um de nós também ganhou alguma coisa.

Sim, rejubilamo-nos ou lamentamos pelo Brasil só a cada quatro anos, mas não devemos nos criticar por esse patriotismo quadrienal. A alegria que vimos explodir em Madrid pela televisão quando a vitória espanhola já se consolidava em nada difere da que explodiria em qualquer outro país que estivesse no lugar da Espanha.

Em vez de nos criticarmos pelo orgulho nacional exclusivamente futebolístico, temos que descobrir como fazer para que todos queiramos senti-lo em nosso progresso como povo. Deve haver uma forma de nos despertarmos para o desejo de nos projetarmos como nação na civilidade, na economia, nos indicadores sociais.

Não devemos deixar que os altos estratos desta sociedade continuem vendendo ao resto dela a idéia vil de que estamos fadados ao fracasso em tudo o mais que não seja futebol.

Mas estamos no caminho. Estamos vendo o país colher vitórias no desenvolvimento, como acontece na superação de uma crise econômica que pôs o novo campeão mundial de joelhos, bem como a maioria de seus vizinhos europeus.

Enquanto a vitória espanhola é uma ilusão, pois não propicia nada de realmente concreto àquele povo mergulhado no desemprego e na recessão, a vitória que este novo Brasil está logrando em seu desenvolvimento econômico e social é o que nós, brasileiros, devemos comemorar como se tivéssemos sido campeões no futebol novamente.

Não somos campeões mundiais nos quesitos supra elencados, mas estamos caminhando, a passos largos, para grandes vitórias como nação. O Brasil está batendo um bolão, nesse aspecto. Certamente nenhum de nós verá este país ser o mais desenvolvido, mas o estamos vendo adquirir os meios para chegar lá, um dia.

doblogdacidadania


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