Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, julho 15, 2010

Roubado Portinari

A dor da perda de um quadro de Portinari

Foi com muita tristeza que li hoje no Jornal do Comércio, do Recife, a notícia sobre o roubo da tela “Enterro”, do nosso grande e querido pintor Cândido Portinari, do Museu de Arte Contemporânea, em Olinda. A cada notícia de roubo de quadros de museus brasileiros, parece que retiram um pedaço de cada um de nós. É como se nossa identidade ficasse ferida pela perda de uma parte dela mesma.

O quadro roubado em Olinda é um pequeno óleo de 0,23 x 0,33m da fase azul de Portinari, mas como toda a sua obra é impregnada de brasilidade. Nele, quatro homens simples carregam um caixão de criança, um retrato pungente da mortalidade infantil tão comum nas cidades do interior do Brasil antigamente. Portinari expunha o Brasil profundo aos brasileiros, com suas glórias e suas mazelas.

Portinari dedicou toda a sua vida à pintura e mesmo sabendo estar se intoxicando com as tintas continuou a pintar até sua morte, em 1962. Quem rouba ou ordena o roubo de uma tela do pintor desrespeita sua vida e seu compromisso com o Brasil. Torço para que a tela seja recuperada, como aconteceu com outros quadros famosos, e devolvida para a apreciação de todos os brasileiros

dotijolaço

Nenhum comentário:

Postar um comentário