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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 13, 2010

Sonegômetro: já é preciso medir o quanto não se arrecada neste País

Homem do jatinho de Serra, suplente de Cesar Maia, tem 228 milhões em paraíso fiscal

O ex-deputado e ex-banqueiro Ronaldo Cezar Coelho (PSDB/RJ), empresta seu jatinho e helicóptero para José Serra (PSDB/SP) fazer sua campanha pelo Brasil a fora, conforme amplamente noticiado.

Cezar Coelho é também 1º suplente do candidato ao senado Cesar Maia (DEMos/RJ) nestas eleições de 2010, e apresentou sua declaração de bens ao TSE, contendo algumas curiosidades.

Da fortuna declarada de mais de meio bilhão de reais, quase a metade, 228 milhões estão no exterior, nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal.


O valor está declarado e, por isso, a princípio, não há ilegalidade.

A razão para manter dinheiro em paraísos fiscais são duas: ou ocultar a origem do dinheiro (há paraísos fiscais que não exigem nenhuma declaração fiscal, e contas podem ser até ao portador), ou fugir de pagar impostos no país onde vive. No caso do demo-tucano, menos mal, porque ele se identifica como sócio da Samambaia Investiments Limited e declara.

Fortuna declarada, mas origem desconhecida pelo eleitor

Ronaldo Cezar Coelho elegeu-se deputado pela primeira vez em 1986.

Seu patrimônio declarado subiu de R$ 28 milhões em 1996 para R$ 565 milhões em 2010, um crescimento de 1937%. A evolução declarada é:

1996: R$ 28 milhões
1997: R$ 69 milhões
2001: R$ 298 milhões
2006: R$ 493 milhões
2010: R$ 565 milhões

O grande salto, a partir dos dados disponíveis, foi no período de 1997 para 2001, coincidentemente na época de FHC, quando o patrimônio engordou 332%.

Dinheiro em paraíso fiscal aparece a partir de 2001

Nas eleições de 1998 não constava em seus bens nenhuma fortuna no exterior. A partir de 2001, já aparecia R$ 134 milhões no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britanicas:

1997: R$ 0 milhões
2001: R$ 134 milhões
2006: R$ 204 milhões
2010: R$ 228 milhões

Sangria da riqueza nacional para o exterior

Ainda que a origem da fortuna seja totalmente legal (o ex-banqueiro foi dono do banco Multiplic e da financeira Losango), fica moralmente complicado para um homem público, que quer influir no destino de uma nação, deixar metade de sua fortuna expatriada, para fugir de pagar impostos no país onde vive.

Justamente por ser milionário, tem maior capacidade contributiva. É muito egoísmo para um político, fazer fortuna no Brasil, ganhando juros pagos por milhões de brasileiros, e em vez de agir com grandeza, gerando empregos e riquezas aqui, deixar aplicada metade da fortuna no exterior, evadindo capitais, poupança interna, e recolhimento de impostos, que poderiam ser feitos aqui. Essa riqueza poderia estar a serviço de financiar produção e empregos no Brasil.

É essa turma que quer colocar Serra no poder, e ter influência na política do Banco Central, do Ministério da Fazenda, do BNDES.

Fortuna feita cobrando juros reais de até 34% ao MÊS no Brasil

Na seção de cartas da "insuspeita" revista Veja de 22/10/1997 (auge do demo-tucanato com FHC no poder, antes de quebrar de vez o Brasil), com a inflação já controlada pelo plano real, um leitor reclamava:


Detalhe: Ronaldo Cezar Coelho era deputado federal pelo PSDB, nesta época.

Serra liberou geral a agiotagem dos bancos: derrubou o teto de 12% de juros, na constituição

Clique na imagem para ampliar

A constituição de 1988 determinou que a taxa máxima anual de juros reais permitida seria de 12%, conforme proposto e aprovado pelo ex-deputado constituinte Fernando Gasparian (PMDB-SP):

No artigo 192:

§ 3º - As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar.

Em 1997, o então senador José Serra (PSDB), apresentou a PEC 21 (proposta de emenda constitucional), para revogar o tabelamento dos juros em 12% ao ano.

Serra articulou e conseguiu aprovar no Senado em 1999. Não é de se estranhar que banqueiros assim emprestem jatinho para o Serra. (Relembre essa história completa da PEC 21 aqui).
dosamigosdopresidentelula

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