Quem matou o cinegrafista da Band?
Jornalista não é policial |
Jornalista não é policial.
O segundo suspeito é o diretor de jornalismo da Band, que, provavelmente, não fez seguro de vida para a família do cinegrafista.
O terceiro suspeito é, de novo, o diretor de jornalismo da Band, que permite transformar jornalistas em protagonistas: jornalista não compete com policial nem com traficante pelo protagonismo de uma reportagem.
Além do mais, para o espectador, que diferença faz se as imagens de um tiroteio com traficantes são do cinegrafista da Band ou da própria polícia ?
E mais: por que novas imagens de tiroteio com traficantes ?
Que novidade têm ?
Que informação adicional dá ao espectador ?
Qual a diferença entre o tiroteio de ontem e o tiroteio de hoje ?
Por que os cinegrafistas só filmam da perspectiva da polícia para os traficantes e, não, dos traficantes para a Polícia ?
Porque o jornalismo brasileiro não sobe o morro.
Só entra na favela com a cobertura da Polícia.
O que se passa lá dentro – para o bem ou para mal – não interessa.
O quarto suspeito é o policial que autorizou três equipes de televisão a acompanhar um tiroteio com traficantes.
O quinto suspeito é o Comandante da PM que permitiu que um policial admitisse que três equipes de televisão acompanhassem um tiroteio com traficantes.
O sexto suspeito é o Secretário de Segurança do Rio, que permite que uma ação policial se transforme numa reportagem espetaculosa.
Para o Bom (?) Dia Brasil, porém, num mau passo do Chico Pinheiro, a morte do cinegrafista da Band é uma restrição à liberdade de imprensa.
O tom da cobertura do Bom (?) Dia Brasil foi o de incriminar a política de segurança do Rio.
Como se sabe, a política de segurança do Rio é exemplar.
Combate o tráfico como nenhuma outra do Brasil – como se sabe, São Paulo consome mais carro, geladeira e viagens a Disney que o Rio, mas, cocaína, isso o Rio consome mais.
O projeto pioneiro das UPPs é um sucesso.
Mas, a política de segurança do Rio tem um grave defeito para o jornalismo dirigido pelo Ali Kamel, esse baluarte da liberdade de imprensa para divulgar atentados com bolinhas.
A segurança do Rio não é a do Governo Carlos Lacerda.
Nos bons tempos do Lacerda, o Secretário de Segurança Ardovino Barbosa mandava bater em jornalistas.
Como os do jornal A Noite, na Cinelândia, em 1961, na crise da Legalidade.
(O ansioso blogueiro era foca da Noite e testemunhou a “liberdade de imprensa” dos lacerdistas.)
Paulo Henrique Amorim
A propósito do assunto, Francisco e Leônidas, amigos navegantes, responderam:
Francisco
Enviado em 07/11/2011
Sou historiador. Muito da narrativa histórica se faz a partir dos relatos jornalísticos (peneirados, claro).
Daqui a trinta anos, os historiadores vão concluir que durante os últimos dez anos não houve teatro, nem cinema nacional, não se publicou livro, nem se pintou quadro. Não houve nenhum grupo de jovens propondo mais uma vez (como é natural e necessário na juventude) que toda a arte seja revista. Ninguém cantou, ninguém arquitetou nada (haverá boatos sobre uma ponte com três quilômetros e meio de extensão, por exemplo), ninguém criou. Não se saberá (como não se sabe já agora) que nalgum morro, alguém compôs um samba que, ouvido, poderia ser um novo clássico da alma brasileira.
Tudo o que se saberá é que houve sangue e morte nos lugares onde negros moram. Se saberá também que houve apresentadores de programas jornalísticos especializados nisto: morte e sangue. Se saberá que ganhavam muito bem.
A TV brasileira tem algum problema grave. Assim como mulher não é redutível a bunda, humor a humilhação e música a cifras, também uma nação de oito milhões de quilômetros quadrados e cento e noventa milhões de boa gente não se reduzem a cem quilômetros quadrados e trafico de drogas.
O povo brasileiro é mais que isso.
É fácil conhecer lugares do país onde o último crime aconteceu há vinte anos e foi gente da “cidade grande” que o foi cometer. Os “jornalistas” locais o detalham anos a fio nas rodas de conversa. Dizem assustados: “esse mundo esta perdido…”. Dizem aterrorizados: “aqui esta pior que no Rio, pior que em São Paulo!”. O jornalista da Band morreu em serviço. Quem matou?
A cidade grande.
Leonidas de Souza
Enviado em 07/11/2011
Quem matou o jornalista da Band foi a promiscuidade entre as Polícias e a grande Mídia.
Alguém já se perguntou porque a Globo tem prioridade nas investigações da Polícia Federal?
Toda semana a Globo divulga no Fantástico e no Jornal Nacional reportagens exclusivas mostrando depoimentos, documentos, etc sobre investigações da Polícia Federal, na maioria sob segredo de Justiça.
O que a Globo oferece em troca, reportagens elogiosas sobre as operações da PF?
Esse “uma mão lava a outra”, é mais que evidente.
Esse sistema de troca deve funcionar para todas as polícias e quem furar, vai sofrer uma campanha feroz contra.
Até o Exército americano já adotou esse sistema, como assistimos na invasão do Iraque.
O Exército americano levava os “jornalistas” para documentarem suas operações, montando cuidadosamente os cenários para que a Mídia mostrassem a opinião pública suas ações de modo favorável a invasão, principalmente sobre as tais armas de destruição em massa.
O problema é que as vezes não dá para combinar com o inimigo e alguns desavisados morrem.
Aí, entra em cena o velho e bom corporativismo.
*Conversa Afiada
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