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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, janeiro 03, 2012

50 ANOS SEM O PAI DO AMIGO DA ONÇA


50 anos sem Péricles (ou o Amigo da Onça?)

Uma das maiores criações do cartum brasileiro - o Amigo da Onça - nasceu da cabeça de um pernambucano: Péricles de Andrade Maranhão. O personagem é, sem dúvida nenhuma, uma presença obrigatória no imaginário coletivo nacional desde a década de 40. Péricles nasceu no bairro do Espinheiro, no Recife, dia 14 de agosto de 1924, estudou no Colégio Marista e fez sua primeira charge para o Diário de Pernambuco. A charge viveu nas páginas de O Cruzeiro de 23 de outubro de 1943 a 3 de fevereiro de 1962. Depois da morte de seu criador, o Amigo da Onça foi desenhado por Carlos Estevão. Os diretores da revista O Cruzeiro queriam criar um personagem fixo e já tinham até o nome, adaptado de uma famosa anedota.

Péricles de Andrade Maranhão foi um adolescente pernambucano desenhista daqueles com talento de enlouquecer qualquer professor. Jovem durante a fase áurea dos quadrinhos, por vezes imitou os traços de Dick Tracy, Agente Secreto X-9 e Flash Gordon.

Menor de idade, chegou ao Rio de Janeiro, com uma carta de recomendação para nada mais nada menos que Leão Gondim de Oliveira, manda-chuva dos Diários Associados, então a mais poderosa rede de comunicações do país. Em sua estreia, a 6 de junho de 1942, era o funcionário mais jovem da empresa . Nove meses depois, seu primeiro personagem cômico no Diário da Noite, Oliveira, o trapalhão, já divertia os leitores.

No ano de 1943, O Cruzeiro, baseado numa equipe jovem e de qualidade, iniciava a revolução que faria nos anos seguintes, tornando-se a revista mais importante do Brasil. Péricles participaria com um tipo humorístico que traduzisse "a verve típica e o humor carioca", que captasse "o estado de espírito daquele que vive no Rio de Janeiro, não importa onde tenha nascido".

Rabisca pra cá, rabisca para lá, Péricles coloca o lápis para pensar e emerge uma figura que lhe parece apropriada: baixinho, cabelo penteado para trás à base de gumex, summer jacket, bigodinho safado, olhar de peixe morto. Fez tanto sucesso que as tiradas, que antes ficavam na capa e contra-capa, passaram a ser dentro da revista, evitando que as pessoas apenas as folheassem sem pagar.

O Amigo da Onça foi utilizado para fazer jornalismo e críticas e em muitas situações o Amigo da Onça esculhamba instituições como o casamento, exército e a hipocrisia social contida no jogo de aparências. (Fontes: Blog=Memorial pernambucano e Blog Luis Nassif).

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