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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, janeiro 24, 2012

Cuidado, tucanos: Serra se remói

 

Já era bem claro, para quem sabe, pelo tal “Brado Retumbante” da Rede Globo, que foi “casualmente” lançado.
Mas FHC, o decano do tucanato, tratou de explicitar, na entrevista à revista inglesa The Economist, que a Folha reproduz.
A tática para 2014 está montada: Aécio para a presidência, que livrará o PSDB do quarto massacre, pois, pela idade e candidatura inédita não fará vergonha; Alckmin para o Governo de São Paulo, para tentar fazer com que o provável naufrágio nas eleições paulistanas deste ano atinja o convés superior.
José Serra é impiedosamente moído pela fraternidade de tamanduá do ex-presidente.
Que, aliás, “prevê” o obvio: “uma briga interna muito forte no PSDB, entre Serra e Aécio”.
Briga na qual, agora, ele assume publicamente o lado de Aécio.
Serra, a esta altura, é pura bile.
Ele atribui a Aécio o inferno astral que enfrenta com as denúncias da “privataria”.
E não admite a ideia de se tornar o “boi de piranha” para que FHC atravesse o rio com Aécio de grumete.
Enquanto ele, inservível como candidato futuro, é destroçado como o grande beneficiário dos negócios da privatização.
Serra não enffrentará isso de forma aberta, polemizando.
Não é da sua natureza o combate, mas a intriga e a perfídia.
Fernando Henrique julga-se Luís XV, cohecido como “o Bem-Amado”, que arruinou a França.
Serra de outra natureza, é o homem (de)formado na penumbra, nas negaças, no jogo palaciano.
Sente que há uma pinça se fechando sobre ele, para removê-lo de cena.
Não lutará como o leão que não é. Mas como a víbora que sempre foi.
*Tijolaço

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