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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, janeiro 06, 2012

Globo inaugura preconceito contra haitianos

 

Haitianos do Acre são bem vindos como os portugueses e os palestinos
Saiu na pág. 3 do Globo:

“O Haiti é aqui
.
Começa por este título, que lembra música de Gil e Caetano para descrever cenas de preconceito racial e violência no Brasil.

(Quando Caetano ainda não era o que é.)

“Cidade do Acre pede ajuda para manter imigrantes que chegam em massa (?) buscando emprego”


Segundo a repórter Cleide Carvalho, os haitianos chegam ao Acre pela Bolívia e o Peru, através de uma rede de tráfico de pessoas, organizada pelos coyotes que levam imigrantes ilegais aos Estados Unidos.

Pelo jeito, o Globo assume a liderança do movimento que, nos Estados Unidos, pretende construir uma Muralha para se separar do México – e da miséria.

Ou do candidato à Presidência que ameaçou invadir o México para acabar com o consumo de cocaína pelos americanos – e “cuidar” dos “ilegales”.

Na mesma página, o Globo conta que uma empresa de Chapecó, em Santa Catarina, a Fibratec, que produz piscinas de fibra, contratou 23 haitianos no Acre e está muito feliz.

Porque “estamos com muita dificuldade para preencher as vagas que temos abertas”, disse o presidente da empresa, Érico Tormen.

Quem mora em São Paulo, como este ansioso blogueiro, consegue ouvir os sussurros, perceber na linguagem dos gestos o preconceito que já se instalou contra os trabalhadores bolivianos.

A Globo tem uma longa tradição de discutir o “racismo”.

Seu Ratzinger, guardião da Fé dos Marinho, Ali Kamel, é autor de um retumbante best-seller, Não, não somos racistas, longe disso !

Ele sustenta que no Brasil não há tantos negros, como os haitianos, mas “pardos”.

O que lhe valeu o titulo de “o nosso Gilberto Freire” (*).

Ali Kamel poderia iniciar uma campanha dentro do Globo para evitar que se inaugure no Brasil a temporada de caça aos haitianos.

Como no Texas e no Arizona.

O Brasil é país de múltiplas etnias.

Bolivianos e haitianos são bem vindos.

Como os portugueses.

E os palestinos.


Paulo Henrique Amorim

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