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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Por trás de Yoani Sánchez


por Hélio Doyle

Com a aproximação da viagem da presidente Dilma Rousseff a Havana, volta à cena a blogueira Yoani Sánchez, hoje a mais conhecida opositora da revolução vitoriosa em 1959 e do sistema socialista que vigora em Cuba desde 1961. Yoani, ao contrário de outros opositores residentes em Cuba, não lidera um grupo político, mas dispõe de um blog que é traduzido em 18 línguas. Ela gravou um vídeo pedindo à presidente Dilma que interceda para que o governo cubano lhe dê autorização para vir ao Brasil. E o senador petista Eduardo Suplicy tem feito gestões públicas para a blogueira possa vir à Bahia para o lançamento de um documentário em que é personagem.

No Itamaraty, não oficialmente, há a suspeita de que a movimentação em torno da vinda de Yoani está sendo feita por setores interessados em prejudicar a visita de Dilma a Raúl Castro, colocando-se na pauta da mídia um tema político que possa constranger os cubanos e reduzir o impacto dos pontos econômicos e comerciais da viagem. E Suplicy faz seu papel porque quer aparecer na mídia. É possível, pois qualquer um que conhece o jeito cubano de enfrentar situações adversas sabe que esse tipo de pressão é o mais contraproducente possível caso o objetivo fosse realmente trazer Yoani à Bahia.

Para o governo cubano, Yoani, jovem, bonita e fluente, é sustentada financeiramente pelos Estados Unidos para ser a mais influente opositora do regime, utilizando-se das redes sociais para disseminar pelo mundo posições contrárias ao regime – embora, em Cuba, sua repercussão seja quase nula. Uma das maneiras de remunerá-la, segundo os cubanos, é a concessão de prêmios patrocinados por instituições contrárias a Cuba. O embaixador de Cuba em Brasília, Carlos Zamora, assegura que oficialmente não foi apresentado ao consulado o documento básico para iniciar os trâmites para a viagem: uma carta-convite formal a Yoani.

O presidente cubano Raúl Castro já anunciou, em diversas ocasiões, que haverá mudanças na legislação que regula as viagens de cubanos ao exterior, abrandando-se as exigências. O tema, porém, está associado a outra questão delicada: a política dos Estados Unidos em relação à imigração de cubanos para aquele país. Cuba acusa os Estados Unidos de negarem vistos de entrada a cubanos, ao mesmo tempo em que os incentivam a sair ilegalmente do país.

Em 2010, Yoani deu uma entrevista ao jornalista francês Salim Lamnarium, que conhece bem a história e a situação de Cuba. É na verdade um diálogo dele com a blogueira, em que ela se vê contestada e acaba caindo em contradições e demonstrando desconhecimento sobre questões simples. Reproduzo o longo texto, já que a web permite, para que cada um faça seu juízo. A propósito, as fotos sobre o alegado sequestro de Yoani nunca foram mostradas.

A entrevista:


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