CAIU NOSSA BASTILHA
A
tomada da Bastilha foi um episódio de enorme importância simbólica, por
ter exposto dramaticamente a fragilidade de uma monarquia que caía de
podre mas os franceses, por hábito, continuavam temendo; daí o 14 de
julho haver se tornado o principal feriado da nação.
Seu resultado prático, contudo, foi apenas a libertação dos sete últimos
prisioneiros que nela restavam e a obtenção de um arsenal sucateado (de
15 canhões, apenas três funcionavam...).
Da mesma forma, o que nossos indignados acabam de conseguir não foi somente a revogação, em poucas capitais, de mais um reajuste de tarifas do transporte coletivo. Na verdade, eles despertaram um gigante adormecido: o povo brasileiro.
A chegada ao poder do partido que se propunha a representar os
explorados teve o efeito nocivo de os desmobilizar; passaram a crer que
lhes seria dado de mão beijada o que tinham, isto sim, de conquistar com
os punhos cerrados.
Quando o PT se vergou ao poder econômico para conseguir governar, endireitando e domesticando-se a olhos vistos, o povo ficou órfão e, pior ainda, desiludido e descrente de sua força.
Limitava-se a resmungar contra a corrupção, contra a inflação, contra as
maracutaias da Copa, contra o sucateamento da Saúde e da Educação,
contra o caos nos transportes, contra a vida mal vivida e a noite mal
dormida...
Em São Paulo, a bestialidade de um governo cujos efetivos policiais
permanecem mentalmente ancorados na ditadura militar despertava reações
frouxas, quase irrelevantes face à gravidade de episódios como a
ocupação militar da USP e a barbárie no Pinheirinho.
No entanto, a força da opinião pública é bem maior que a dos brutamontes
fardados; foi o que se constatou, primeiramente, em 2011, quando uma
tentativa de proibição da Marcha da Maconha acabou em recuo, face à péssima repercussão da blitzkrieg que a PM desencadeou em plena avenida Paulista.
O fenômeno se repetiu na semana passada: quando são escancarados ao País --e ao mundo-- os métodos corriqueiros das nossas polícias democráticas,
a batalha pelos corações e mentes está ganha. Só sádicos e psicopatas
conseguem presenciar aquelas agressões covardes sem se revoltarem.
E, desta vez, o exemplo de luta de São Paulo inspirou iniciativas
semelhantes em várias outras cidades, que trouxeram à tona demandas
reprimidas há mais de uma década e flagraram uma insatisfação
generalizada com os governantes do País.
Foi um divisor de águas: nada será como antes amanhã. A passividade e a
prostração terminaram. As cobranças começaram. Novos contingentes
revolucionários estão sendo forjados na luta, para um dia oferecerem uma
verdadeira solução às carências e aflições do nosso povo.
Desde que sejam pacientes na acumulação de forças e perspicazes na
escolha do momento para cada batalha, não tentando acelerar
artificialmente os acontecimentos e precavendo-se sempre contra a ação
nefasta dos provocadores infiltrados.
Saques e depredações são tudo de que não precisamos neste momento mágico de retomada em larga escala das lutas sociais.
*Naufragodautopia
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