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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 03, 2013

BLACK BLOC PÕE EM CHEQUE O ESTADO DE DIREITO POLICIAL, NÃO O ESTADO

Os Black Bloc e os protestos em geral estão colocando em cheque o Estado de Direito Policial, não o Estado de Direito. O Estado Policial é o estado em que a polícia é a própria lei.

As ações dos Black Blocs e as manifestações estão expondo de forma vergonhosa as obscenidades do Estado de Direito Policial que se firmou no Brasil com a Ditadura de 64 e vive impunemente no interior da democracia.

A democracia foi reestabelecida, mas a herança do horror da ditadura permanece no cotidiano das ruas, das favelas, da periferia.

O aparelho do Estado Policial que torturava e matava militantes políticos não foi destruído com a volta das eleições democráticas.

O aparelho do Estado Policial foi transferido para o combate nas periferias, matando e torturando pobres e negros, principalmente, e chantageando jovens brancos da classe média. Esse Estado se mantém em permanente guerra civil contra as drogas. O mesmo soldado que é jogado nessa guerra do tráfico é o que atende a população. É um Estado que coloca o soldado em estado de guerra permanente.

O Estado de Direito Policial está presente no cotidiano, na existência aberrante de uma Justiça Militar, na dificuldade de se apurar os crimes da ditadura, nas torturas de inocentes em delegacias, no discurso vazio e sem contexto do “vandalismo”, no discurso da “ordem”, na criminalização de movimentos sociais.

Quem já não sentiu na pele um policial dizendo que a polícia também é a lei para jogar a lei na lata do lixo e estabelecer a barbárie. Ou seja, o Estado Policial persiste desde a Ditadura, mas estava restrito à periferia.

Quantos jovens, negros, trabalhadores, inocentes não foram mortos nesses últimos 30 anos por policiais nas periferias? Quem se lembra da Favela Naval e tantos outros casos de assassinatos?

Talvez o filme mais idiota da cinematografia brasileira, O Tropa de Elite, expõe de forma evidente esse Estado Policial e sua filosofia.

Os Black Blocs trouxeram esse Estado Policial para o centro da cidade, o colocaram em contato com a classe média, expuseram suas entranhas e sua violência por meio de celulares.

O PT, partido que surgiu e lutou contra esse Estado Policial, está hoje em um impasse. Uns, mais governistas e preocupados exclusivamente com as eleições do ano que vem, estão se filiando ao discurso bélico da extrema direita; outros, tentam encontrar uma saída. Nos protestos de Junho, o governo Dilma Rousseff conseguiu avançar, mas conseguirá agora ou vai retroceder e reforçar o Estado Policial?

É hora de rever o Estado Policial e a desigualdade social que se mantém sob a mira da bala e do cassetete. A polícia não pode ser a lei, ela deve cumprir a lei. É bom lembrar que tudo começou com uma ação criminosa da Polícia Militar de São Paulo em Junho deste ano.

*Educaçãopolitica

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