Suécia fecha 4 prisões e prova: a questão é social
Penas alternativas e investimento na
ressocialização de detentos derrubaram a população carcerária e levaram
ao fechamento de 4 prisões no país nórdico
Presídio Dois Rios, abandonado de Ilha Grande (RJ) Marcelo César Augusto Romeo / Flickr / Creative Commons |
O jornal inglês The Guardian informou em sua edição de ontem que 4
prisões e um centro de detenção foram fechados na Suécia, pela Justiça
daquele país, por falta de prisioneiros. O diretor de serviços
penitenciários local, Nils Oberg, afirmou que o número de detentos
estava caindo 1% ao ano desde 2004 e, de 2011 para 2012, caiu 6%.
Oberg e outras fontes ouvidas pelo jornal inglês acreditam que a queda
do número de presos tem os seguintes motivos: 1) investimentos na
reabilitação de presos, ajudando-os a ser reinseridos na sociedade; 2)
penas mais leves para delitos relacionados às drogas e 3) adoção de
penas alternativas (como liberdade vigiada) em alguns casos.
Com uma política semelhante, a superpopulação carcerária no Brasil e em
outros países poderia ser bastante atenuada. O exemplo sueco deixa
claro, mais uma vez, que a questão da criminalidade é, sim, social.
Ninguém nasce malvado, não existe o que popularmente é chamado de sangue
ruim.
Na Suécia, 112º país do mundo em população carcerária, são 4.852
presidiários para 9,5 milhões de habitantes –51 para cada 100 mil
habitantes. No Brasil, que tem a 4ª maior população carcerária do mundo,
são 584.003 detentos, ou 274 por 100 mil habitantes.
E olha que a reportagem nem entra no mérito de que naquele país nórdico
toda população têm acesso a serviços públicos de qualidade (educação,
saúde, cultura etc) e que lá os direitos humanos são levados a sério
pelos governantes.
Acreditar que não há ligação entre a questão social e o número de presos
em um país é acreditar que há pessoas mais propensas para o mal. Ou que
quem nasce abaixo da linha do Equador é mais malandro ou algo que o
valha.
Isso sem falar na questão moral. Insuflada pelos Datenas da vida, boa
parte da população acha que mesmo quem cometeu um crime leve tem de
amargar longos períodos encarcerados em condições sub-humanas. E grita
contra qualquer investimento na ressocialização de detentos –“pra quê
gastar dinheiro com bandido?”.
O que o autoproclamado “cidadão de bem” precisa entender é que a melhor
opção para a segurança de sua família – e para um mundo melhor — é o
modelo sueco, e não a manutenção das prisões brasileiras tais como estão
hoje.
Lino Bocchini
No CartaCapital
Nenhum comentário:
Postar um comentário