Procurador muy amigo
Rodrigo De Grandis deixou de
investigar quatro autoridades que comandaram o setor de energia durante
governos tucanos em São Paulo
A gaveta do procurador Rodrigo De Grandis é mais profunda do que se
imaginava. Além dos ofícios do Ministério da Justiça com pedidos da
Suíça para a apuração de contratos suspeitos envolvendo a multinacional
Alstom, ele engavetou uma lista secreta com nomes de autoridades
públicas, lobistas e empresários que deveriam ter sido investigados
desde 2010. O que mais chama a atenção na lista suíça, a qual IstoÉ
obteve com exclusividade, é a presença de quatro ex-executivos da
Companhia Energética de São Paulo (Cesp), que, até agora, não haviam
aparecido no enredo do escândalo do Metrô e do propinoduto tucano em São
Paulo. Poupados por De Grandis, esses personagens comandaram o setor
de energia durante seguidos governos tucanos e, hoje, ganham a vida em
consultorias privadas, algumas com estreito vínculo com a cúpula do
PSDB paulista. São eles: Julio Cesar Lamounier Lapa, Guilherme Augusto
Cirne de Toledo, Silvio Roberto Areco Gomes e Iramir Barba Pacheco. Os
quatro foram nomeados por Covas. Mas, enquanto Lapa deixou o governo
tucano ainda em 2001, os outros três permaneceram intocáveis na cúpula
da Cesp por mais de uma década.
ENGAVETOU DE NOVO
Rodrigo De Grandis já tinha mandado para o arquivo oito
ofícios que pediam apuração do escândalo do Metrô
Rodrigo De Grandis já tinha mandado para o arquivo oito
ofícios que pediam apuração do escândalo do Metrô
Lapa, que foi presidente da Comgás na gestão Mario Covas e diretor
financeiro e de relações com investidores da Cesp, é sócio de Bolívar
Lamounier na Augurium Análise Consultoria e Empreendimentos Ltda.
Bolívar, velho amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com
quem até escreveu um livro em parceria, é considerado um dos principais
intelectuais tucanos. Outro integrante da lista dos poupados por De
Grandis, Toledo foi o que permaneceu na Companhia Energética de São
Paulo por mais tempo – 12 anos no total. Ele assumiu a presidência da
Cesp em 1998 no lugar de Andrea Matarazzo, quando este virou secretário
de Energia. Como já se sabe, Matarazzo responde a inquérito por
suspeita de receber propina do grupo Alstom em contratos
superfaturados. Além da Cesp, Toledo acumulou a presidência da Emae
(Empresa Metropolitana de Águas e Energia), que também assinou
contratos milionários com a Alstom. Ele deixou o governo apenas em
janeiro de 2010, sob ataque de sindicatos do setor contra o plano de
privatização da companhia. Em novembro daquele ano, o MP suíço pediu
que Toledo fosse ouvido dentro do processo EAI 07.0053-LENLEN. Além da
oitiva, os promotores pediram medidas de busca e apreensão, além de
quebra de sigilo bancário. Os dados seriam fundamentais para a
instrução de mais seis processos em curso naquele país. Assim como
Lapa, Toledo hoje vive de consultorias no setor.
A estatal também abrigou, de Covas a José Serra, o engenheiro Silvio
Areco Gomes, outro protegido por De Grandis. Ele só deixou a direção de
geração da Cesp em 2008, ano em que eclodiram as primeiras denúncias do
esquema de propinas da Alstom. Assim como Toledo, Gomes virou
consultor. Abriu a Consili Consultoria e Participações. Pacheco é o
quarto na lista engavetada pelo procurador De Grandis. Ele foi nomeado
em 1999 como diretor de planejamento, engenharia e construção da Cesp e
lá ficou até o início do segundo governo de Geraldo Alckmin. Foi
substituído no cargo por Mauro Arce, que acumulou a função com a de
presidente da estatal. Pacheco responde no Tribunal de Contas do
Estado, junto com Toledo, por contrato suspeito com a empresa Consbem
Construções, responsável pela reforma dos edifícios-sede I e II da
Cesp. A 2ª Câmara do TCE considerou irregulares o contato de R$ 37
milhões e seus cinco aditivos. Os réus recorreram da decisão no ano
passado e o caso foi parar justamente nas mãos do conselheiro Robson
Marinho, já denunciado por receber propina da Alstom.
Sem avançar nas investigações, o MP suíço ainda não aprofundou o
envolvimento dos quatro executivos da Cesp no esquema de propinas
tucano. Serão necessários um pente-fino nos atos administrativos e uma
devassa nas contas das consultorias identificadas. No mesmo processo
suíço que arrola os protegidos do procurador, também estão citados
outros 11 nomes. No Brasil, apenas cinco deles foram incluídos no
inquérito que a Polícia Federal concluiu em 2012 e que levou ao pedido
de quebra de sigilo bancário solicitado por De Grandis em setembro.
Entre eles, os tucanos José Geraldo Villas Boas e José Fagali Neto.
LOGO ELE
Apuração de irregularidades no setor de energia foi parar nas mãos do
conselheiro Robson Marinho, denunciado por receber propina da Alstom
Apuração de irregularidades no setor de energia foi parar nas mãos do
conselheiro Robson Marinho, denunciado por receber propina da Alstom
Fotos: Robson Fernandes, Clayton de Souza-AE; Paulo Giandalia/Valor/Folhapress
Claudio Dantas Sequeira
No IstoÉ
*comtextolivre
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