Empresa planeja dirigíveis para transporte de cargas
Do Jornal do Comércio
Aeronave é desenvolvida por associação da Bertolini e da Engevix
Ousado. Essa é uma palavra que pode definir o projeto da Airship do
Brasil Indústria Aeronáutica (companhia formada pela associação da
Transportes Bertolini e Engevix). A empresa pretende desenvolver
dirigíveis que serão empregados, entre outras ações, no transporte de
cargas. Inicialmente, a própria Bertolini será a principal cliente,
utilizando o veículo para deslocar produtos de Manaus para as regiões
Sul e Sudeste do País.
Mas a ideia é também comercializar as aeronaves no mercado para outros agentes.
A Airship já desenvolve modelos de dirigíveis menores voltados para o
imageamento aéreo, publicidade ou outros fins. Entretanto, o próximo
passo da companhia, o cargueiro ADB 3, com capacidade para transportar
até 30 toneladas em cargas, é que gera grandes expectativas. A previsão é
que o voo teste desse dirigível ocorra em julho de 2016. O veículo será
construído em uma unidade que está sendo instalada no município
paulista de São Carlos. O diretor de gestão da Transportes Bertolini e
diretor da Airship, Paulo Vicente Caleffi, explica que o lugar foi
escolhido por se tratar de um local muito ligado aos assuntos
aeronáuticos, sediando o curso de Engenharia Aeronáutica da EESC-USP.
O dirigente adianta que na unidade fabril e no protótipo do dirigível
deverão ser investidos cerca de R$ 145 milhões, sendo R$ 105 milhões
financiados pelo Bndes. Nesse momento, a empresa está desenvolvendo o
projeto do veículo em laboratório, enquanto constrói a planta em São
Carlos. O complexo já tem capacidade para criar alguns equipamentos e
deverá começar a produzir os chamados aeróstatos (balões para o içamento
de cargas e outras atividades comerciais) no final do ano.
O cargueiro, por sua vez, que será implementado futuramente, terá mais
de cem metros de comprimento e deverá alcançar uma velocidade de cerca
de 100 quilômetros por hora, voando a uma altitude de cerca de 3 mil
metros. Caleffi estima que a operação terá um custo semelhante ao do
frete de caminhão. No início, a aeronave deverá operar com hélio (gás
mais leve que o ar, que fará o veículo flutuar). Contudo, estão sendo
feitas pesquisas que indicam que será possível atuar com hidrogênio, um
gás mais abundante e econômico.
Caleffi lembra que o hidrogênio foi um dos fatores que causou o desastre
com o Hindenburg (dirigível construído pela empresa
Luftschiffbau-Zeppelin que sofreu um incêndio ao final de uma viagem
transatlântica na década de 1930). Porém, o dirigente ressalta que os
equipamentos atuais são muito mais seguros do que os seus antepassados,
devido ao avanço da tecnologia. Os motores da aeronave empregarão diesel
como combustível.
Para Caleffi, como o Brasil não usa adequadamente as hidrovias e a malha
ferroviária não é estendida como deveria, existe a possibilidade de um
novo modal ocupar um espaço no mercado. O dirigente lembra que na Rússia
faz-se transporte de cargas por dirigíveis, mas não em grande escala.
No caso da Transportes Bertolini, a empresa não pretende utilizar o
dirigível em todo o Brasil, mas em locais de difícil acesso, como a
Amazônia. Na região, a aeronave poderá usar balsas para pousar. Caleffi
diz que as principais características das cargas vocacionadas a serem
transportadas por esse modal aéreo são: grande volume, pouco peso e alto
valor agregado.
A Transportes Bertolini, por exemplo, pretende movimentar
eletroeletrônicos a partir de Manaus. “É uma gauchada”, compara Caleffi,
fazendo relação à fama de desbravador. Apesar de a sede ser localizada
em Manaus, a companhia foi fundada pelo gaúcho Irani Bertolini, e suas
primeiras atividades envolviam o transporte de móveis, por caminhões, de
Bento Gonçalves para o Amazonas. “É a renovação do que existia no
passado, através do dirigível”, argumenta Caleffi.
*amoralnato
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