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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, novembro 10, 2013

Estadão está à venda, mas não há comprador


Brasil 247 - A exata medida da crise da imprensa brasileira está colocada numa nota publicada neste fim de semana na coluna Radar. Trata da possível venda do jornal Estado de S. Paulo. Diz o texto:

IMPRENSA

Marca de peso

O Itaú BBA tem em mãos um mandato para vender O Estado de S. Paulo. As Organizações Globo foram sondadas. Não se interessaram.

Mais do que estar sendo vendido, o jornal centenário, hoje comandado por Francisco Mesquita Neto, passa o vexame de não atrair interessados. Reflexo do que ocorre na mídia no inteiro. Recentemente, o Boston Globe, que havia sido adquirido pelo The New York Times por mais de US$ 1 bilhão, foi vendido por apenas US$ 70 milhões – o que significa que, a cada dia, jornais impressos perdem valor.
Pode ser que o Itaú encontre um comprador para o Estadão, mas a missão não é simples. Dois anos atrás, outro banco, o BTG Pactual, de André Esteves, também tentou costurar uma saída para o grupo, altamente endividado e já na quinta geração familiar.  
A ideia de Esteves era oferecer o Estadão à Folha de S. Paulo, de Otávio Frias Filho, para que o jornal dos Mesquita fosse fechado – assim, o mercado anunciante de São Paulo não seria mais dividido entre dois grandes veículos de comunicação. No entanto, a operação também não avançou.
Hoje, em vez de comprar o Estadão, a Folha parece disposta a "roubar" os seus leitores. É isso o que explica a recente guinada conservadora do jornal, que contratou colunistas como Demétrio Magnoli e Reinaldo Azevedo. Pesquisas internas do grupo Folha apontam um dado desesperador para o grupo: praticamente não existem leitores de jornais com menos de trinta anos, uma vez que os jovens se informam pela internet e pelas redes sociais. Diante da constatação de que não haverá leitores para jornais impressos no futuro, o que a Folha tem buscado é, simplesmente, competir pelos já existentes e que, hoje, assinam ou compram o Estadão.
*Saraiva

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