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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, novembro 12, 2013

O que acontece na Palestina é diferente de tudo que já vimos, relata Sem Terra

Via MST
Júlio Carignano Do Sítio Coletivo
Uma brigada de solidariedade da Via Campesina esteve no mês de outubro em uma missão na Palestina. Batizada de Ghassan Kanafani – em menção ao escritor palestino marxista e um dos líderes da Frente Popular Pela Libertação da Palestina assassinado em 1972 – a brigada foi composta por 12 militantes do MST e de outros movimentos sociais da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba).
Por lá, o grupo conheceu a realidade do país árabe, os efeitos da ocupação do território palestino por Israel e as experiências de agricultura e resistência popular.
Presente na missão de solidariedade, o militante Armelindo Rosa da Maia, mais conhecido como Beá, da coordenação do MST no Paraná, fez um relato da viagem em seminário recente realizado na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Cascavel.
Para o Sem Terra, a passagem pelo país árabe foi um grande aprendizado que serviu para a militância fazer um paralelo da luta cotidiana dos movimentos sociais, uma nova leitura do significado da Reforma Agrária e para desmistificar uma série de informações massificadas pelos meios de comunicação hegemônicos sobre o conflito histórico entre judeus e palestinos.
Beá iniciou seu relato com um contexto histórico do conflito, iniciado em 1948 quando a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou a criação do estado de Israel em área da Palestina.
Desde então, Israel realiza um processo de colonização do estado palestino, ocupando hoje mais de 80% de todo o território. "O que acontece naquele território é diferente de tudo que a gente já viu. É uma região historicamente ocupada e o que vemos na mídia é muita desinformação. As vezes tratam o conflito como algo religioso, mas o que está em jogo é que aquela é uma região estratégica para o capital", comenta.
O militante falou sobre o constante estado de terror dos palestinos. "Imagine o que é viver sob o medo, sabendo que a qualquer momento o exército pode invadir sua casa, com cidadãos sendo presos muitas vezes a revelia e forma ilegal". Atualmente são mais de 5 mil presos políticos palestinos por resistirem à ocupação, além disso existem mais de 7 milhões de refugiados, que foram expulsos de suas terras desde a criação do Estado de Israel.
Cuidado! Crianças
Muitos palestinos estão proibidos de sair do país e a construção de um muro desde 2003 isola e prende os palestinos, confiscando as terras férteis dos camponeses. As crianças também são alvo e vítimas de torturas físicas e psicológicas, como relata Beá.
"O que nos chocou muito foi o número de crianças presas, ao todo são 188. Em nossa cultura não se submete castigos e torturas às crianças. Por lá elas ficam presas e passam por isolamento de 30 a 40 dias, numa cela sozinha e o primeiro contato depois disso é com o torturador, então a criança sai de lá achando que o exército são os melhores caras do mundo", conta o militante.
O processo de colonização do território palestina passa pela construção dos chamados 'assentamentos israelenses', já denunciados diversas vezes por organizações internacionais por violarem os direitos dos palestinos.
Os assentamentos desalojam os palestinos, destroem seus cultivos e propriedades e os submetem à violência. Para Beá, os assentamentos contrastam com a miséria dos palestinos. "Diferente daqui, onde lutamos pela constituição de nossos assentamentos, por lá a palavra assentamento representa o horror. São mansões construídas na Cisjordânia, locais murados com hectares de bananas plantadas em estufas sendo constantemente irrigadas com água que é desviada das áreas palestina".
Durante a viagem, a brigada traçou paralelos da luta dos movimentos sociais de luta pela terra com a resistência do povo palestino. "A viagem valeu para cair a ficha sobre algumas coisas, como o fato que nossa militância precisa entender de vez que a Reforma Agrária também passa pela defesa de nossos territórios tradicionais, das terras indígenas, quilombolas, faxinalenses, ribeirinhos. Quando olhamos a luta indígena no Brasil nos faz lembrar do povo palestino, que tiveram suas terras tomadas paulatinamente", destaca o coordenador do MST.
Questionado sobre como é possível grupos armados resistirem dentro de um território pequeno e sob o comando de Israel, Beá afirma que a própria resistência acaba sendo utilizada como tática do 'terror sionista'. "Isso ajuda a aumentar e legitimar a opressão do Sionismo, pois são por essas ações de um povo que resiste que se justificam as piores reações", conclui o militante em seu relato.
*GilsonSampaio

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