O que acontece na Palestina é diferente de tudo que já vimos, relata Sem Terra
Via MST
Uma
brigada de solidariedade da Via Campesina esteve no mês de outubro em
uma missão na Palestina. Batizada de Ghassan Kanafani – em menção ao
escritor palestino marxista e um dos líderes da Frente Popular Pela
Libertação da Palestina assassinado em 1972 – a brigada foi composta por
12 militantes do MST e de outros movimentos sociais da Aliança
Bolivariana para as Américas (Alba).
Por lá, o
grupo conheceu a realidade do país árabe, os efeitos da ocupação do
território palestino por Israel e as experiências de agricultura e
resistência popular.
Presente na missão de
solidariedade, o militante Armelindo Rosa da Maia, mais conhecido como
Beá, da coordenação do MST no Paraná, fez um relato da viagem em
seminário recente realizado na Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(Unioeste), campus de Cascavel.
Para o Sem
Terra, a passagem pelo país árabe foi um grande aprendizado que serviu
para a militância fazer um paralelo da luta cotidiana dos movimentos
sociais, uma nova leitura do significado da Reforma Agrária e para
desmistificar uma série de informações massificadas pelos meios de
comunicação hegemônicos sobre o conflito histórico entre judeus e
palestinos.
Beá iniciou seu relato com um
contexto histórico do conflito, iniciado em 1948 quando a Organização
das Nações Unidas (ONU) decretou a criação do estado de Israel em área
da Palestina.
Desde
então, Israel realiza um processo de colonização do estado palestino,
ocupando hoje mais de 80% de todo o território. "O que acontece naquele
território é diferente de tudo que a gente já viu. É uma região
historicamente ocupada e o que vemos na mídia é muita desinformação. As
vezes tratam o conflito como algo religioso, mas o que está em jogo é
que aquela é uma região estratégica para o capital", comenta.
O
militante falou sobre o constante estado de terror dos palestinos.
"Imagine o que é viver sob o medo, sabendo que a qualquer momento o
exército pode invadir sua casa, com cidadãos sendo presos muitas vezes a
revelia e forma ilegal". Atualmente são mais de 5 mil presos políticos
palestinos por resistirem à ocupação, além disso existem mais de 7
milhões de refugiados, que foram expulsos de suas terras desde a criação
do Estado de Israel.
Cuidado! Crianças
Muitos
palestinos estão proibidos de sair do país e a construção de um muro
desde 2003 isola e prende os palestinos, confiscando as terras férteis
dos camponeses. As crianças também são alvo e vítimas de torturas
físicas e psicológicas, como relata Beá.
"O que
nos chocou muito foi o número de crianças presas, ao todo são 188. Em
nossa cultura não se submete castigos e torturas às crianças. Por lá
elas ficam presas e passam por isolamento de 30 a 40 dias, numa cela
sozinha e o primeiro contato depois disso é com o torturador, então a
criança sai de lá achando que o exército são os melhores caras do
mundo", conta o militante.
O processo de
colonização do território palestina passa pela construção dos chamados
'assentamentos israelenses', já denunciados diversas vezes por
organizações internacionais por violarem os direitos dos palestinos.
Os
assentamentos desalojam os palestinos, destroem seus cultivos e
propriedades e os submetem à violência. Para Beá, os assentamentos
contrastam com a miséria dos palestinos. "Diferente daqui, onde lutamos
pela constituição de nossos assentamentos, por lá a palavra assentamento
representa o horror. São mansões construídas na Cisjordânia, locais
murados com hectares de bananas plantadas em estufas sendo
constantemente irrigadas com água que é desviada das áreas palestina".
Durante
a viagem, a brigada traçou paralelos da luta dos movimentos sociais de
luta pela terra com a resistência do povo palestino. "A viagem valeu
para cair a ficha sobre algumas coisas, como o fato que nossa militância
precisa entender de vez que a Reforma Agrária também passa pela defesa
de nossos territórios tradicionais, das terras indígenas, quilombolas,
faxinalenses, ribeirinhos. Quando olhamos a luta indígena no Brasil nos
faz lembrar do povo palestino, que tiveram suas terras tomadas
paulatinamente", destaca o coordenador do MST.
Questionado
sobre como é possível grupos armados resistirem dentro de um território
pequeno e sob o comando de Israel, Beá afirma que a própria resistência
acaba sendo utilizada como tática do 'terror sionista'. "Isso ajuda a
aumentar e legitimar a opressão do Sionismo, pois são por essas ações de
um povo que resiste que se justificam as piores reações", conclui o
militante em seu relato.
*GilsonSampaio
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