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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, novembro 02, 2013

Carta revela mais detalhes o apoio popular a Jango. “Voz das ruas” era da minoria


A revista CartaCapital publica neste sábado novas e mais profundas informações sobre o processo de agitação que levou à deposição do João Goulart em 64.

A “voz das ruas” de então, as marchas da Família com Deus pela Liberdade, francamente apoiadas pela mídia e pela Igreja, está longe de representar a maioria.

Ao contrário, era uma minoria de classe média que, em boa parte, mal sabia que estava escancarando as portas do país à selvageria que, pouco tempo depois, iria devorar seus próprios filhos, em 68.

Uma das informações mais interessantes é a das pesquisas Ibope, realizadas antes do golpe.

Uma delas, concluída apenas cinco dias antes do movimento militar, em oito capitais, mostra que 49,8% dos pesquisados admitiam votar em Jango caso ele pudesse se candidatar à reeleição – o que não era permitido, à época – contra 41,8% que rejeitavam essa possibilidade.

Segundo o Brasil Econômico, que antecipa trechos da matéria da Carta, “em São Paulo, 72% da população aprovava o governo Goulart. Entre os mais pobres, a popularidade chegava a 86%.

O golpe saiu não pelas massas, mas pelas malas de dólares, como as que, agora, sabe-se que foram entregues ao general Amaury Kruel, até ali um amigo do presidente, e então, devidamente “abastecido” , peça chave na sua derrocada.

É bom que uma turminha que acha que tudo é “puro e espontâneo” revisite o passado, para ver como se demoliram os governos trabalhistas neste país: Getúlio, Jango e…

Fernando Brito

*Tijolaço

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