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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, novembro 06, 2013

Sérgio Amadeu: teles querem separar ricos e pobres na internet

Professor da UFABC avalia que lobby no Congresso pode levar a retrocessos no acesso irrestrito à navegação pela rede, impondo diferenças econômicas e ideológicas entre os usuários
Redação da RBA



São Paulo – Nascido como uma proposta inovadora, representante dos anseios da sociedade, o marco civil da internet corre o risco de se transformar numa mudança capaz de frear os avanços obtidos nos últimos anos na rede e dela excluir setores gradativamente incluídos no uso e nos debates trazidos pelo relacionamento virtual. Se prosperar o lobby das empresas de telecomunicações, controladoras de 8% das riquezas do Brasil, surgirá uma internet dos ricos, com direito à exploração integral das ferramentas existentes, e uma dos pobres, excludente e limitadora.
Na segunda-feira (4), no programa Contraponto, do Sindicato dos Bancários de São Paulo, em parceria com o Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé, o cientista político Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC e integrante do Comitê Gestor da Internet, recordou que as teles querem colocar em risco a normatização da internet tal como a usamos hoje: sem restrições de acesso a determinados tipos de conteúdo e sem discriminação financeira.
O programa debateu os perigos trazidos por uma semana decisiva para a tramitação, na Câmara, do projeto de lei surgido da internet, encaminhado ao Ministério da Justiça e daí repassado ao Congresso. A proposta ganhou tramitação de urgência, a pedido de Dilma Rousseff, depois das denúncias de espionagem de comunicações pessoais da presidenta e de empresas nacionais pelos Estados Unidos.
Com isso, tranca a pauta da Câmara e, imagina-se, tem chance de ser votada ainda esta semana. Se aprovada sua versão inicial, representará um caso único no mundo, que no geral convive com modelos balizados por restrições que se ancoram na argumentação da segurança nacional e da diferenciação econômica de usuários.
Mas, na reta final, o lobby das teles e da Globo, representado no Congresso pelo líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), trabalha com força para alterar o projeto relatado por Alessandro Molon (PT-RJ). Uma das ideias centrais é quebrar o princípio de neutralidade da rede. Se isso ocorrer, as fornecedoras de conexão à internet podem trabalhar com diferentes pacotes, que incluam o acesso a serviços de acordo com a capacidade financeira do usuário: acesso apenas a e-mail, apenas a redes sociais, apenas a canais de vídeo etc. Em outra frente, podem impor restrições ao acesso a determinados tipos de conteúdo, barreira não livre de recortes ideológicos ou morais que rompe com a internet como os brasileiros conhecemos hoje.
Acompanhe a seguir as explicações de Sérgio Amadeu sobre o marco civil e os riscos trazidos por mudanças.


*reneamaral

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