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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, junho 18, 2010

(Ensaio sôbre a cegueira) Saramago






Morreu o escritor José Saramago


O escritor português José Saramago morreu hoje, sexta-feira. O escritor, Prémio Nobel da Literatura, estava radicado na ilha espanhola de Lanzarote.

José Saramago faleceu cerca das 12.45 em Lanzarote, a mesma hora de Portugal continental, na casa em que residia, na localidade de Tias, na ilha espanhola de Lanzarote.

Em entrevista ao canal de televisão portuguesa, o editor de José Saramago confirmou a morte do escritor. "Aconteceu há pouco", disse Zeferino Coelho, recordando que o Nobel da Literatura "estava doente há algum tempo, às vezer melhor outras vezes pior".

José Saramago nasceu na aldeia ribatejana de Azinhaga, concelho de Golegã, no dia 16 de Novembro de 1922, embora o registo oficial mencione o dia 18. Aos 87 anos, morreu o primeiro Nobel da Literatura português.

Aos três anos, foi com os pais para Lisboa, cidade em que viveu a maior parte da vida adulta. Fez apenas os estudos secundários (liceal e técnico).

Serralheiro mecânico, exerceu, depois, outras profissões, destacando-se as de editor, tradutor e jornalista.

Publicou o primeiro livro, um romance, "Terra do Pecado", em 1947, tendo estado depois sem publicar até 1966.

Em 1972 e 1973 fez parte da redacção do Jornal "Diário de Lisboa", como comentador político.

Pertenceu à primeira Direcção da Associação Portuguesa de Escritores.

Foi galardoado com o prémio Nóvel da Literatura em 1998. Deixa uma vasta obra, da poesia, com que se iniciou, à prosa, que lhe valeu o reconhecimento da Academia Sueca.

Pensar, pensar


Junho 18, 2010 por Fundação José Saramago

Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma.

do Com Texto Livre



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Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.



Morre escritor português José Saramago, aos 87 anos

Reuters/Brasil Online

MADRI (Reuters) - O escritor José Saramago, primeiro Prêmio Nobel português, morreu aos 87 anos nesta sexta-feira em sua casa nas Ilhas Canárias, informou a editora que publica seus livros na Espanha, a Alfaguara.

O autor, cuja frágil saúde provocou temores sobre sua vida há alguns anos, publicou no final de 2009 seu último romance "Caim", um olhar irônico sobre o Velho Testamento, muito criticado pela Igreja Católica.

Cético e pessimista contumaz, Saramago levantou sua voz por inúmeras vezes contra as injustiças, a Igreja e os grandes poderes econômicos, que ele via como grandes doenças de seu tempo.

"Estamos afundados na merda do mundo e não se pode ser otimista. O otimista, ou é estúpido, ou insensível ou milionário", disse o escritor em dezembro de 2008, durante apresentação em Madri de "As Pequenas Memórias", obra em que recorda sua infância entre os cinco e 14 anos.


José Saramago: "O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas"

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sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago: "O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas"


O mundo ficou mais burro e cego hoje!“.

Foi assim a definição do cineasta Fernando Meireles à respeito da morte de José Saramago.

Tem razão.

Era um “comunista hormonal” espetacular.




Morreu José Saramago

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José Saramago (16/11/1922 - 18/06/2010)



Fala do Velho do Restelo ao Astronauta

Aqui na terra a fome continua,
a miséria e o luto e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
de mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.

José Saramago in Os Poemas Possíveis, Lisboa, Editorial Caminho, 1981



José Saramago fala sobre sua relação com Deus e a Igreja












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