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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, julho 13, 2011

Trilhões para a Guerra nem 0,1 centavo para a PAZ

As despesas mundiais em armamento, sempre encabeçadas pelos Estados Unidos, tiveram em 2010 um crescimento de 1,3 por cento, atingindo um trilião e 630 mil milhões de dólares.
Os cem maiores fabricantes mundiais de armamento, com excepção da China, venderam 401 mil milhões de dólares de produtos bélicos em 2009, com o recorde para os Estados Unidos, cuja encomenda governamental continua a elevar-se.
Com a despesa mundial em armamentos durante 2010 poderiam manter-se 212 milhões de crianças de aproximadamente um ano, ao custo médio necessário num país desenvolvido europeu. A manutenção estimada por criança ali, segundo fontes extra-oficiais, é de quatro mil 715 dólares ao ano, enquanto o investimento em meios bélicos aumentou em 2010, globalmente, a um trilião e 630 mil milhões de dólares.
Nove milhões de crianças morrem de fome anualmente no mundo, e só o protótipo do super avião britânico não tripulado Taranis acumulou um custo de 215 milhões de dólares, os que bastariam para alimentar 45.599 crianças ao ano.
Nos países do sul poderiam alimentar-se muitos mais pequenos, se só se tratasse de cobrir as necessidades básicas para não morrer de inanição e de doenças previsíveis ou curáveis, ainda que o anterior se assume hoje só como relações matemáticas.
Mas o Tiranis, nome do Deus celta do trovão e qualificado como “a cúpula” da engenharia britânica e do desenho aeroespacial não é o maior exemplo bélico, pois as despesas em armamentos compreendem enormes meios com capacidade de destruição totalmente global.
O Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (SIPRI) considera, no seu relatório sobre o ano passado, que as armas nucleares continuam a representar um grande perigo apesar das promessas de redução.
Como causa da pronunciada pirâmide armamentista, intensifica-se a luta pelas riquezas naturais devido ao aumento da procura internacional e da penúria induzida especialmente pelas mudanças climáticas.
Neil Melvin, director no SIPRI do programa Conflitos Armados e Gestão dos Conflitos, considera que os recursos são “um factor maior de conflito”.
Em sua opinião, o petróleo tem desempenhado o seu papel nas tensões no Sudão e na Líbia, onde contribui para a guerra civil, ao que pode acrescentar, na opinião de analistas, que motiva também os bombardeamentos da OTAN.
O aumento súbito da procura pelo consumo, segundo o SIPRI, é a causa principal de uma concorrência crescente na busca de recursos exploráveis, até no Árctico, e do aumento dos preços, sobretudo os da alimentação.
Ante tais previsões, o alarme é maior se se considera que os preços dos alimentos poderiam duplicar de agora a 2020.
Em relação a isto, os múltiplos actos de violência da chamada primavera árabe foram engendrados em grande parte “por distúrbios causados pela fome” e os altos “preços dos produtos alimentares”, opina.
Sobre as armas nucleares, o SIPRI explica que as reduções anunciadas foram amplamente compensadas mediante a modernização e a multiplicação dos vectores.
Só oito países possuem mais de 20.500 ogivas nucleares.
Desse total, “mais de cinco mil estão deslocadas e prontas para serem usadas, e duas mil são mantidas em estado de elevado alerta operacional”.
Cinco desses estados, assinantes do Tratado de não Proliferação, “ou já estão deslocando novos sistemas de armas nucleares, ou têm anunciado a sua intenção de o fazer”.
Considera assim mesmo que as despesas mundiais em armamento, sempre encabeçadas pelos Estados Unidos, experimentaram em 2010 um crescimento de 1,3 por cento, até o trilião e 630 mil milhões de dólares.
Os cem maiores fabricantes mundiais de armamento, excepto a China, venderam 401 mil milhões de dólares de produtos bélicos em 2009, com o recorde para os Estados Unidos, cuja encomenda governamental continua a elevar-se.
O seu orçamento militar para 2011 é de 708 mil milhões de dólares, 42,8 por cento da despesa mundial, com o que quase atinge a soma de todos os demais países.
Não obstante o dispendioso - e na opinião de muitos inútil - comércio e despesa em armas, a realidade evidencia que este custo é insustentável, a não ser que se reembolse mediante a conquista de territórios e de outros recursos.
Promover as guerras - fratricidas todas elas - conduz ao aniquilamento humano.
Durante a última década, dois milhões de crianças foram assassinadas em guerras, e calcula-se que 150 milhões são exploradas como força de trabalho.
Quatro milhões de recém-nascidos, segundo meios jornalísticos, morrem no primeiro mês de vida, 82 por cento não recebem antibióticos, vários milhões de menores de 14 anos têm AIDS e 500 mil mulheres falecem anualmente ao parir.
Ademais, 600 milhões de crianças no mundo são vítimas da pobreza, 100 milhões vivem na rua, 150 milhões de meninas e 73 milhões de menores de 18 anos são explorados sexualmente e um milhão e 800 mil caíram no comércio sexual.
Expande-se a opinião de que “há muito os países poderosos… escolheram o caminho do armamento e da guerra para resolver as suas carências de energia e outros recursos naturais, sem pensar e analisar o que podem acarretar estes factos no futuro”.
O Taranis, capaz de empreender tanto tarefas de espionagem e vigilância como de transportar armas para atacar todo tipo de alvos, foi desenvolvido por BAE Systems, Rolls-Royce, Qinetiq e GE Aviation com o apoio do Ministério de Defesa britânico, durante quatro anos concluídos em 2010.
Gerald Howarth, o ministro para Assuntos de Defesa, declarou à BBC Mundo que “Taranis é um projecto realmente de vanguarda. Primeiro do seu tipo no Reino Unido, reflecte melhor os avanços de desenho e as capacidades tecnológicas de nosso país e constitui um programa líder no cenário mundial”.
Mas “é um primeiro passo para o Reino Unido”, pois “não se trata de um avião que vá entrar em serviço, mas de uma demonstração tecnológica que provará técnicas, demonstrará capacidades e assinalará a direcção na qual vamos”.
Segundo as pesquisas, compreendeu-se de que se trata… e é só um exemplo.
Sobretudo quando os deficits públicos se mantêm à ordem do dia, descem as despesas sociais, se privatizam bens do património, também na União Europeia, e se elevam os orçamentos militares em países aos quais ninguém agride.
Os seus investimentos bélicos impedem salvar aos famintos, ao mesmo tempo que provocam a morte, também em espiral.
(*) Redacção Global da Prensa Latina.

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