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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, outubro 13, 2014

O VOTO É CONTRA O ÓDIO

Gregorio Duvivier vota contra o ódio

gregorioduvivier


Acho importante destacar a decisão de Gregorio Duvivier, fundador do campeão de acessos Porta dos Fundos, de declarar publicamente seu voto em Dilma, porque ela nasce, fundamentalmente, do desejo de afirmar o seu humanismo radical.
Mais que isso: o desejo de vencer a onda de ódio irracional e classista que caracteriza o voto em Aécio Neves.
Acusam o PT de “dividir” o Brasil em ricos e pobres, mas não se vê nenhum petista pobre nas ruas vociferando impropérios contra os ricos.
Não se vê nenhum petista agredindo as pessoas que fazem campanha de Aécio.
O contrário, infelizmente, é verdadeiro.
Sou testemunha.
Os aecistas que entram no blog para comentar, fazem-no apenas para agredir. Uns mandam mensagens pessoais pelo Facebook, xingando-me, o que acho o cúmulo do patético.
Aécio Neves é o candidato do ódio.
Outro dia, Wadih Damous, presidente da Comissão da Verdade no Rio, informou, em sua conta de Facebook, que estava recebendo inúmeros relatos de mulheres agredidas, sobretudo na zona sul (área mais rica da cidade), por estarem fazendo campanha da Dilma. Ele aconselhou que dessem queixa na polícia. Eu acrescento: façam isso e mandem uma cópia do BO para os blogs, para publicarmos.
Pois bem, Duvivier assustou-se com a perseguição que sofreu nas ruas do Leblon, com idiotas de jipe importado gritando para ele “voltar a Cuba”.
É isso que vivemos, uma tentativa de impor ao Brasil uma revolução dos idiotas, dos truculentos, dos reacionários.
Ao final de sua crônica, Duvivier relata uma experiência que os blogueiros já viveram há tempos. Muitos de nós não somos petistas. Não votamos sempre no PT. Como Duvivier, também temos inúmeras críticas, algumas pesadas, ao governo e ao PT, como jamais ter enfrentado o monopólio da comunicação, por exemplo.
Não adianta. Apenas o fato de defendermos opiniões progressistas, já somos tachados de petistas.
Então que assim seja.
Duvivier conclui, em sua crônica publicada hoje: “Se quem defende causas humanitárias e direitos civis é tachado de petista, não me resta outra opção senão aceitar essa pecha. ”
*
Abaixo, a coluna de Duvivier.
Terra estrangeira
13/10/2014 02h00
Por Gregório Duvivier, na Folha
Eis que de repente, não mais que de repente, toda caminhonete que se preze tem um adesivo do Aécio. No peito do motorista, um brasão, muitas vezes peludo, quando não um cavalo, aquele enorme cavalo em alto relevo, que vai do umbigo ao mamilo. Olham, ele e o cavalo, altaneiros por sobre os bípedes, coitados, que insistem em andar ao rés do chão -ainda não vi uma bicicleta com adesivo do Aécio.
Estou voltando para casa a pé, tarde da noite, quando percebo que uma enorme SUV me acompanha -lustrosa, reluzente, cheirando a blindada. Finjo que não percebo, até que começam a buzinar. Minha auto-estima elevada me faz crer que são fãs do Porta dos Fundos. Aceno simpático. Um sujeito põe a cabeça para fora da janela e berra: ” Vaza, PT! Volta pra Cuba!”
Sento no meio-fio, desolado. Não votei nem manifestei apoio ao PT, tampouco fui a Cuba, mas parece que, aos olhos do mundo (ou, ao menos, do Leblon), tenho uma estrela no braço. Por algum motivo, represento o inimigo. A realidade é dura: moro em terra estrangeira.
Nos postes da cidade, os adesivos se multiplicam. “Aqui se vota Aécio”. Você, que não vota como o poste: ame o Rio -ou deixe-o. Aqui não é sua área. Aqui se brinda pelo fim da maioridade penal. Aqui a gente cansou da corja do PT e quer gente nova -mas logo quem? O mensalão tucano, a compra da reeleição, o aeroporto, o helicóptero, tudo virou pó.
Um amigo, Aécio ferrenho, disse que sonha com um Brasil em que ele possa ir pra Nova Iorque com o dólar um pra um. Aí, eu vi sinceridade. O que não dá é votar Aécio contra a corrupção. O mandato nem começou e ele já está cheio de esqueletos no armário.
Por isso, não voto feliz em nenhum dos dois candidatos. Não importa quem ganhe, já começa endividado – e vai quitar a dívida com DINHEIRO público. Ambos contraíram empréstimos milionários com empreiteiras, bancos, com a Friboi (sim, a Friboi doou a mesma quantia para os dois candidatos -não quis correr riscos) e fizeram acordo com os setores mais reacionários da sociedade. Ambos os governos – não se enganem- vão ser ruralistas, fundamentalistas e corruptos. Seu dinheiro, eleitor, já está comprometido.
Por essas e outras, poderia votar nulo – mas a militância de jipe e os comentaristas de portal não me dão essa opção. Se quem defende causas humanitárias e direitos civis é tachado de petista, não me resta outra opção senão aceitar essa pecha.
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