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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, dezembro 08, 2014



 
A ópera do impeachment começa a avançar para a primeira semifinal.
 
Todos os capítulos convergem para o relatório de Gilmar Mendes sobre as contas de campanha de Dilma Rousseff e do PT - que deverá ser apresentado nos próximos dias.
 
Como se recorda, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Antonio Dias Toffoli fez uma manobra que acabou entregando as duas relatorias ao Ministro Gilmar Mendes.  O relatório de Gilmar será entregue nos próximos dias. 
 
Para preparar o terreno, nos últimos dias houve as seguintes manobras:
 
1. Hoje a Folha traz uma pesquisa Datafolha segundo a qual 60% dos brasileiros acham que Dilma está envolvida no escândalo. E a previsível Veja traz capa enfatizando ligações do Lava Jato com financiamento de campanha do PT. 
 
2. Já era previsível que começassem as pressões sobre o Ministério Público e o STF (Supremo Tribunal Federal). Na semana passada, Veja esboçou o primeiro ataque, com uma nota sobre supostas negociações do PGR Rodrigo Janot com empreiteiras, visando tirar o governo das suspeitas. Não ousou mais que uma pequena nota que, já na segunda-feira, era repercutida pelo viking Aloyzio Nunes no Senado e se perdeu na balbúrdia da semana. Desde a campanha, a IstoÉassumiu o papel de linha auxiliar dos quatro grandes. Esta semana fez uma capa sobre o tema. São ataques preventivos visando inibir a atuação do Ministério Público, no caso da operação impeachment deslanchar.
 
3. Nas tentativas de inflamar as ruas, até José Serra saiu das sombras para discursar em um comício pró-impeachment, visando suprir a ausência de Aécio Neves. A mídia tratou de transformar os 800 em uma multidão.
 
Ventos pró e contra
 
Em cima desse vendaval, já tiveram início as manobras oportunistas.
 
Globo é o grupo decisivo nessas jogadas. Na semana passada, Dilma foi visitada por João Roberto Marinho, o mais diplomático dos irmãos Marinho.
 
Na sequência, o Jornal Nacional soltou matéria favorável a Dilma, desmentindo nota anterior, nas qual supostamente um dos delatores teria implicado ela e Lula nas operações levantadas pela Lava Jatos,
 
Repare que nesse jogo, os fatos pouco importam.  Se não tem acordo, sai a versão. Havendo acordo, dá-se o desmentido. E o preclaro Ayres Brito sustenta que a liberdade incondicional de imprensa - inclusive abolindo até o direito de resposta - é pre-condição para o direito do cidadão à informação.
 
Ontem, já circulavam notícias de que Dilma deixará para o segundo semestre a questão da regulação econômica da mídia; e não pretende mexer na questão da propriedade cruzada, para não embaralhar demais o meio campo. Pretender regular economicamente a mídia sem mexer na propriedade cruzada é o mesmo que ir a uma ópera com um protetor de ouvidos.
 
Nos próximos dias, as movimentações do Congresso e das manchetes de jornal elevarão a temperatura. Depois, caberá a Gilmar Mendes medir a temperatura, para avaliar até onde poderá avançar com seu relatório.
 
Conhecendo-se a falta de limites de Gilmar, a probabilidade maior é que vá longe.
 
Gilmar é tão sem limite que, em entrevista recente à revista veja sustentou que a jurisprudência do Supremo tende a considerar que direito de resposta - norma constitucional - em publicação impressa fere a liberdade de imprensa.

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