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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 13, 2015

A Necessidade dos Apegos

dDateiformat: EPS Erzeugt von: Adobe Photoshop Version 3.0 Datum: 19.07.1996 10:00 Uhr Name: 57550/1
Por Ana Burke
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O Ser Humano não sabe em que se apega, ou porque se apega. A única coisa que ele sabe com certeza, é que precisa, desesperadamente, se apegar, pertencer a alguém, a alguma coisa, a um sistema, a um determinado grupo ou a uma determinada pessoa. A maioria conhece tudo, sabe tudo, e segue o caminho de uma única verdade que tem que coincidir com as suas necessidades de apego. É preciso proteger o objeto do apego, representado por um deus, uma pessoa ou grupo de pessoas porque, sem o objeto do apego, ele está morto, não serve pra nada, e, não é nada.
Quando eu penso e analiso os apegos eu costumo comparar estes apegos a um muro. Quando vivemos cercados por um muro, sabemos tudo, porque podemos observar tudo. Podemos aprender facilmente, tudo, dentro dos limites deste muro, e, como sabemos tudo, somos sábios e possuidores da verdade…como nos ensina “A caverna” de Platão – ou dos sacerdotes egípcios e egípcios em geral – de quem os gregos copiaram a sua filosofia.
Quebrar o muro e nos desvincular dos apegos é praticamente impossivel porque isto destruiria todas as nossas verdades, toda a nossa razão de viver, todos os nossos ídolos de barro. Escalar as montanhas e descobrir o que existe por trás delas, a amplidão, o horizonte, o desconhecido, é uma ameaça maior que o medo da própria morte e como resultado disso, nos enterramos vivos, protegidos pelo muro construído ao nosso redor, a que muitos chamam de “ignorância”.
Perceber/aprender o que ignoramos significa compreender porque o nosso deus é único e, porque, cada um destes deuses , para aqueles que os seguem, também é único. Ao interagir com as coisas do mundo tomamos consciência de que, do lado de fora, por trás do muro, existem milhares de outros deuses, e milhares de outras verdades, tão falsas e fraudulentas como a nossa verdade. O sábio observa e não foge de nenhum ponto de vista diferente do seu; ele pega todas as verdades existentes, das quais toma conhecimento e as coloca em uma peneira juntamente com a sua verdade, peneira tudo e descobre que 99,99% das verdades, são mitos, incluindo a sua verdade. O que sobra, depois de muito trabalho, estudo e análise, é 0,001% daquilo que pode ser considerado como sendo a verdade real. Se não questionamos, engolimos uma “jaca.
Ao quebrar o muro, descobrimos que os nossos apegos nos impediram de conhecer, e saber, o que é, e significa viver; descobrimos que a maioria mata e morre por mentiras; descobrimos que sacrificamos os nossos filhos, tirando-lhes a identidade e a oportunidade de crescer como seres pensantes, ou questionadores, para proteger, as nossas próprias ilusões; descobrimos que fomos manipulados e manipulamos; descobrimos que só precisa realmente ser salvo, aquele que está cercado pelo muro.
*A.Burke

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