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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, julho 18, 2010

A idéia que a direita retrógrada e incompetente queria para o PT se auto destruiu. Bom para o PT bom para o Brasil dos brasileiros que amam seu País






“Melhor que um dia o PT ganhe, fracasse e aí vamos ter tranquilidade para dirigir o país”

A esquerda e o Brasil

  • EMIR SADER

  • Sociólogo


    Atribui-se a um importante ex-ministro da ditadura militar a afirmação de que “melhor que um dia o PT ganhe, fracasse e aí vamos ter tranquilidade para dirigir o país”. Independentemente de que ele continue a pensar isso hoje ou não, o certo é que fez muito bem para o Brasil o PT ter chegado ao governo com Lula. Não fracassou, ao contrário, mostrou extraordinária capacidade para governar e reverter a tendência estrutural mais grave que o Brasil arrastava ao longo dos séculos — a injustiça, a desigualdade, a exclusão social, marca profunda da forma que nossa história havia assumido desde a colonização, passando pela escravidão, pelos governos oligárquicos, pela ditadura militar e pelo neoliberalismo.

    Ao contrário das previsões agoureiras, foi construído um governo de maior apoio popular, de maior credibilidade internacional, de maior capacidade de direção do Estado brasileiro, protegendo a economia dos ataques especulativos, retomando o desenvolvimento econômico no marco de um processo de distribuição de renda e de afirmação de direitos sociais que nunca o Brasil havia conhecido, fortalecendo e não enfraquecendo a democracia.

    A esquerda governar significa, antes de tudo, desnaturalizar as injustiças, sobrepor os direitos ao mercado, fazer do Estado instrumento das grandes maiorias tradicionalmente postergadas, afirmar nossa soberania no plano externo e fazer dela alavanca para a soberania no plano interno. É não aceitar a redução do Estado a instrumento do mercado, é não aceitar a subordinação do país aos interesses das grandes potências que sempre nos submeteram ao atraso e à marginalidade, é buscar dar voz aos setores populares e não aceitar que a “opinião pública” seja formada pelas elites econômicas.

    Ao governar, a esquerda não apenas não levou o país à crise e a situações de insegurança e de instabilidade, mas, ao contrário, soube conduzir o país frente à pior crise econômica internacional — que ainda afeta profundamente a países do centro do capitalismo e aos que, na periferia, seguiram subordinados ao comando das potências que geraram a crise. Soube acumular reservas que servem como colchão externo e interno frente a situações de crise. Soube combinar desenvolvimento com aumento de salários, sem colocar em risco a estabilidade monetária. Soube fortalecer o Estado, para consolidar sua presença democrática, conquistando mais legitimidade para o Estado brasileiro que qualquer outro governo anterior.

    O governo também faz bem à esquerda, recorda que seus objetivos dependem da construção de alternativas de governo da sociedade como um todo, da sua competência para construir blocos de forças com capacidade hegemônica na sociedade. Que as alianças têm que ser feitas para fortalecer os temas estratégicos do governo. Que tem que se governar para o conjunto do país, com prioridade para os que representam as maiorias e sempre foram relegados. Que todo projeto vencedor triunfa, porque unifica a grande maioria, porque se transforma em projeto nacional, para ser hegemônico.

    Um país que parecia ser destinado a ser governado pelas elites minoritárias, que o produziram e reproduziram como o país mais injusto, mais desigual do continente, de repente vê criar-se em seu seio uma sensibilidade majoritariamente progressista, que privilegia as políticas sociais e não o ajuste fiscal, um país justo e solidário e não egoísta e mercantil. Bom para a esquerda e bom para o Brasil.

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