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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, julho 04, 2010

que belo 4 de Julho para os USA







do comtextolivre

A história não pode ser reescrita pelos vencedores

Pode-se apagar a ocupação americana ou Saddam dos livros de história do Iraque?

Existe uma frase, atribuída a George Orwell, que a história é escrita pelos vencedores. Pode ser, durante algum tempo, mas nunca é para sempre assim, porque a história é feita de fatos e povos, e fatos e povos têm a estranha mania de rebrotar, mesmo quando são podados pela força.

Escrevo isso ao ler no The New York Times que os professores nas escolas do Iraque não podem falar nada sobre a invasão americana ou sobre o governo de Saddam Hussein, por ela derrubado. É como se a história mais recente do Iraque, que continua sendo vivida, não existisse.

O governo iraquiano, títere de Washington, age exatamente como Saddam Hussein, que durante as três décadas que esteve no poder também adulterou o ensino de história para transformá-lo em ferramenta de doutrinação e promoção do culto à personalidade.

O Iraque enfrenta sérios problemas de sectarismo, mas a tentativa de evitar temas sensíveis no ensino de história não parece um bom caminho. Um representante do governo encarregado de rever os currículos escolares cita como exemplo dessas questões sensíveis a guerra recente, deflagrada unilateralmente pelos Estados Unidos, em 2003, que uns chamam de “Operação Liberdade” e outros de ocupação. “Então, não tratamos desta questão”.

A solução parece aquela de “tirar o sofá da sala”, ao invés de enfrentar o problema. A matéria do The New York Times diz que quando a guerra é mencionada em sala, alguns professores tratam de mudar de tema rapidamente, mas outros veem a necessidade de discuti-la, mesmo que vá além do que lhes é dito para fazer.

“Algumas vezes, nós precisamos discutir isso. Quando eu menciono a invasão americana, eu digo ocupação, não liberação”, conta ao jornal americano um professor de uma história secundária para meninas em Bagdá.

Uma colega dele, que ensina história moderna da Europa, alega a necessidade inevitável de abordar a guerra. “Nós falamos sobre colonização francesa, colonização britânica, por que não falar sobre colonização americana”, indaga.

Apagar dos livros de história os anos de Saddam Hussein no poder também vem sendo criticado pelos acadêmicos. O chefe do departamento de história de uma universidade em Bagdá disse que qualquer menção a Saddam foi retirada dos livros e o resultado foi que se tornaram piores do que eram antes.

Um outro grave problema é que a milenar e rica história do Iraque foi condensada e novos tópicos foram incluídos em nome de um multiculturalismo. Um exemplo é um novo livro que abrange a história iraquiana desde a ocupação mongol em 1258 até os dias atuais em apenas 96 páginas. Na época de Saddam, a história iraquiana do século 20 era distorcida para efeito de propaganda, mas os professores dizem que a história antiga era muito mais profunda que a do novo currículo que vem sendo revisto com orientação da Unesco.

Um representante do governo diz que o objetivo do Ministério da Educação é tornar o currículo escolar uma ferramenta para unificar o povo iraquiano. À distância, é muito difícil fazer um julgamento, mas omitir pedaços da história certamente não é um bom caminho para nenhum processo de reunificação.

do Tijolaço

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