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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, agosto 11, 2011


Terça-feira, no almoço que teve com lideranças políticas do Rio de Janeiro, o Presidente Lula disse tudo o que precisava ser dito sobre a questão da moralidade administrativa:
- Quem roubar dinheiro público tem de ir para a cadeia.
Dito isso, esta questão do efeito-faxina tem que ser tratada no campo da política e da comunicação.
A oposição política, depois das três derrotas presidenciais seguidas e, sobretudo, depois que o país reencontrou o caminho do desenvolvimento, não tem tamanho nem causa política que possa usar para bloquear novos e necessários avanços.
Faz tempo que só tem como discurso uma moralidade administrativa que, no poder, nunca praticou.
É tristemente verdadeiro o que disse a D. Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais, quando afirmou, no ano passado, que a imprensa era, de fato, a oposição brasileira.
E, lamentavelmente, uma visão primária de comunicação está deixando a Presidenta ser conduzida pela linha que escolhe a oposição (a de fato) representada pela mídia.

Transformar a Presidenta em “faxineira” – como bem ressaltou, em seu blog, o publicitário Antonio Mello – além de aderir a uma visão machista primária, é deslocar o eixo de compreensão da luta essencial para um combate à corrupção – que não é mais que rotina e obrigação – sobre o qual se podem construir mil distorções e sobre o qual certamente se constrói uma visão despolitizante na população.
Ontem, uma faxineira profissional, arrumando umas fotografias, perguntou-me se eu conhecia muitos políticos – na verdade, só havia fotos com dois, Brizola e Fidel Castro – “destes que ficam roubando a gente”.
Um retrospecto de acontecimentos recentes mostra como estas questões tomaram, na mídia, o lugar de outras que representam a essencia do projeto de desenvolvimento nacional soberano e socialmente inclusivo.
O lançamento da plataforma P-56, um marco gigantesco na construção nacional de equipamentos para, que custo US$ 1,5 bilhão e tem o recorde de 73% de conteúdo nacional apareceu por 15 segundos no Jornal Nacional, no mesmo dia em que durante quase 20 minutos o ex-ministro Antonio Palocci ficava no “nem lá, nem cá” em relação aos questionamentos que sofria.
Depois vieram os casos DNIT, o Ministério da Agricultura, o do Turismo, todos com repercussão muito maior que, por exemplo, o lançamento do plano Brasil sem Miséria, ou os incentivos à indústria nacional, ou a redução de tributos e a simplificação da vida dos microempreendedores, sem falar no plano de educação técnica e outras iniciativas. O balanço do PAC 2 virou uma exposição dos atrasos e suspeitas em uma pequena parte dele, os 10% em atraso das obras no transporte. Ah, esqueci, deixou-se transformar a ação do BNDES no caso Carrefour-Pão de Açucar numa suspeita de obscuras transações com Abilio Diniz.
Estamos diante de um momento mundial gravíssimo, onde o nosso país se prepara para enfrentar uma recessão mundial com o desafio de não interromper seu crescimento. E nossas manchetes são quase que “policiais”.
O Governo, para o público, tem uma única pauta: a faxina. E só se coloca a faxina como prioridade se tudo está muito sujo.
O erro primário de comunicação e imagem está levando o Governo a ficar a reboque dos acontecimentos e criando uma paralisia política.
No post que citei, o Antonio Mello diz, com exatidão: “Eles querem levá-la ao inferno, presidenta, sob a luz dos refletores”.
Uma coisa, óbvia e necessária, é zelar pela probidade administrativa. Outra, bem diferente, é se deixar levar por um clima udenista que usa a moralidade como biombo para manter o Brasil onde está a mais de 500 anos, uma colônia na qual a elite não vê outro destino senão a bem comportada submissão à metrópole.
A Presidenta Dilma chegou ao lugar que ocupa porque é uma mulher de coragem e decisão, sim, mas sobretudo porque é uma pessoa que enxerga um destino para este país e tem o compromisso com a dignidade e a felicidade deste povo. Não por seguir a marquetagem do óbvio e seguir a pauta da mídia.
Pretender que seja percebida apenas como gerente é reduzi-la e reduzir o projeto que ela representa.
*Tijolaço

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