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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 23, 2013

Atriz Fernanda Torrres reconhece: JN perdeu

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Atriz global e colunista da Folha de S. Paulo resume fenômeno de esvaziamento de audiência da TV aberta; "O público não está trocando de canal, mas de mídia", assinala; ela reconhece que a internet está ainda mais avançada que as televisões pagas; "A TV por demanda aponta um futuro em que o espectador monta a sua própria grade. Algo já praticado na internet, onde os comerciais são destinados a um público alvo e os navegadores trocam indicações entre si"; tempo de Cid Moreira já passou; mas publicidade é concentrada em mais de 60% nas tevês abertas; e a maior parte das verbas, na Rede Globo; força do hábito ou do jabá? 
A atriz global Fernanda Torres tocou em texto numa ferida aberta dentro do principal jornal da Rede Globo de Televisão. 
Em coluna publicada nesta sexta-feira 22 no jornal Folha de S. Paulo, Fernandinha, como é conhecida entre seus amigos, lembra na abertura do artigo Vale-TV que em seu tempo de menina – ela é nascida em 1965 – se acostumou a saber a hora do jantar por ouvir a voz de Cid Moreira no Jornal Nacional. 
Mas conta que, hoje, seus filhos já não têm mais essa referência. Eles não se guiam pela entrada no ar de William Bonner e Patrícia Poeta. Nem os escutam nem os assistem. 
Estão atentos a outras mídias, ligados nas tevês por assinatura e conectados à internet. 
A propósito de discutir a suspensão, pela ministra da Cultura, Marta Suplicy, do direito de uso do chamado Vale-Cultura para a feitura de assinaturas de tevês fechadas, Fernanda aborda com precisão o tema do esvaziamento da audiência na tevê aberta. 
A referência inicial ao Jornal Nacional, neste sentido, é emblemática. Apesar de ter um dos espaços publicitários mais caros da mídia brasileira, o JN já não é mais aquele. 
Nos últimos tempos, perdeu nada menos do que 40% de sua audiência histórica. 
Ainda se sustenta, no entanto, nas preferências dos muitos responsáveis pela indicação de anúncios nas agências de publicidade, os chamados 'mídias'. 
Nos anos 1960, quando fundou a Rede Globo, o empresário Roberto Marinho criou um sistema único de remuneração das agências de publicidade. 
Em troca de veiculação, ele estabeleceu o B.V. – Bônus de Veiculação. 
Trata-se de um instrumento existente até hoje, aprimorado através dos tempos, e disseminado entre outras emissoras. Por ele, as agências recebem de volta parte do dinheiro investido em publicidade. 
O B.V. também é conhecido por jabá. 
Boa parte da explicação na insistência na concentração publicitária no Jornal Nacional, apesar das perdas de audiência e, consequentemente, de repercussão, está no B.V. 
O que Fernanda Torres defende é a reabertura das negociações para se incluir a possibilidade de uso do Vale-Cultura – um avanço para o consumo de produtos culturais e de entretenimento no País – poder vingar, também, para assinaturas para tevês pagas. 
Ela não diz com todas as letras, mas deixa clara, em sua coluna, que, hoje, as tevês fechadas – e os sites de internet – são realmente muito mais interessantes que o Jornal Nacional. 
No 247
* BLOG DO SARAIVA
 

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