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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, março 22, 2013

Mundo avança para combater monopólio na comunicação. Brasil fica parado

Enquanto a grande imprensa brasileira ataca qualquer iniciativa de debate sobre a regulação da mídia, o resto do mundo segue avançando. Nesta semana, já falamos da Grã-Bretanha , que decidiu adotar um órgão regulador independente para a mídia escrita. Mas temos também o recente exemplo do México.
É um fato importantíssimo, mas que passou batido na nossa mídia, obviamente de propósito. Há cerca de dez dias, o governo do presidente mexicano Enrique Peña Nieto apresentou uma proposta de reforma das telecomunicações para reduzir a hegemonia de gigantes como a América Móvil e a Televisa. Há alguns dias, a proposta foi aprovada numa comissão da Câmara.
Ela prevê a criação de um novo regulador de telecomunicações, com mais poderes para supervisionar o setor. O México vive hoje um monopólio nas telecomunicações. A América Movil, do empresário Carlos Slim, controla 70% das linhas de telefonia fixa e 75% dos celulares e da banda larga. A Televisa, de Emilio Azcárraga, e a TV Azteca, de Ricardo Salinas, têm juntas 96% desse segmentos. Sozinha, a Televista tem 70% do mercado. Esse monopólio é apontado como um dos fatores que impedem o crescimento econômico por falta de competitividade.
O novo órgão poderá ordenar a venda de ações de companhias dominantes, com mais de 50% do mercado, além de multas e regulações nos preços para beneficiar empresas menores.
Existe um apoio sem precedentes entre os principais líderes políticos para a aprovação no Congresso.
A proposta também prevê, na televisão, a chegada de duas novas redes de transmissão digital para competir com a Televisa e a TV Azteca, além de um canal estatal nacional com programas educacionais e culturais.
E as redes de TV existentes seriam obrigadas a oferecer sua programação gratuita para operadoras de TV a cabo, sem custo. Também está prevista a eliminação a restrições ao investimento estrangeiro (hoje em 49%).
E também haveria uma rede de infraestrutura estatal de telecomunicações para sustentar a expansão de acesso à internet para 70% das casas e 85% dos negócios no país.
Ou seja, são mudanças bastante ambiciosas e significativas. Mexem com o monopólio de telefone, de internet e de televisão.
E isso tudo está ocorrendo sem histeria, diferentemente do que ocorre na nossa imprensa quando se fala em regulação da mídia.
E vejam: tudo isso ocorre no início do governo de Penã Nieto, cuja campanha foi apoiada indisfarçavelmente pela Televisa. Os críticos viam com ceticismo qualquer mudança significativa levada a sério nas telecomunicações. Não é o que está ocorrendo.
E é bom lembrar: muitos outros países democráticos do mundo contam com algum tipo de regulação da mídia. Com tudo isso, agora só falta o Brasil enfrentar o monopólio eletrônico. Até quando vamos ter medo de encarar essa questão?

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