OS IMPUNES SÓCIOS DA TORTURA:
Ilustração de Guayasamin.
Os coniventes
Por Luis Fernando Veríssimo
Os coniventes
Por Luis Fernando Veríssimo
O ex-deputado estadual e ex-marido da Dilma, Carlos Araújo, não é um
ex-ativista politico, pois recentemente voltou à militância partidária
no PDT, apesar de limitado pela saúde. Quando militava na resistência à
ditadura foi preso, junto com a Dilma, e os dois foram torturados.
Depondo diante da Comissão Nacional da Verdade (...) sobre sua
experiência, Araújo lembrou a participação de empresários na repressão,
muitas vezes assistindo à ou incentivando a tortura.
Que eu saiba, foi a primeira vez que um depoente tocou no assunto
nebuloso da cumplicidade do empresariado, através da famigerada Operação
Bandeirantes, em São Paulo, ou da iniciativa individual, no terrorismo
de estado.
O assunto é nebuloso porque desapareceu no mesmo silêncio conveniente
que se seguiu à queda do Collor e à revelação do esquema montado pelo P.
C. Farias para canalizar todos os negócios com o governo através da sua
firma, à qual alguns dos maiores empresários do país recorreram sem
fazer muitas perguntas.
A analogia só é falha porque não há comparação entre o empresário que
goza vendo tortura ou julga estar salvando a pátria com sua cumplicidade
na repressão selvagem e o empresário que quer apenas fazer bons
negócios e se submete ao esquema de corrupção vigente. Mas a impunidade é
comparável: o Collor foi derrubado, o P. C. Farias foi assassinado, mas
nunca se ficou sabendo o nome dos empresários que participaram do
esquema.
Nunca se fez a CPI não dos corruptos, mas dos corruptores, como cansou,
literalmente, de pedir o senador Pedro Simon. No caso da repressão,
talvez se chegue à punição, ou no mínimo à identificação, de militares
torturadores, mas o papel da Oban e da Fiesp e de outros civis
coniventes permanecerá esquecido nas brumas do passado, a não ser que a
tal Comissão da Verdade siga a sugestão do Araújo e jogue um pouco de
luz nessa direção também.
A comparação nossa com a Argentina é quase uma fatalidade geográfica,
somos os dois maiores países da America do Sul com pretensões e vaidades
parecidas. Lá o terrorismo de estado foi mais terrível do que aqui e
sua expiação — com a condenação dos generais da repressão — está sendo
mais rápida. Mas a rede de cumplicidade com a ditadura foi maior,
incluindo a da Igreja, e dificilmente será julgada. Olha aí, pelo menos
nessa podemos ganhar deles. (Fonte: aqui).
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Em lugar de "Os coniventes", certamente o título "Os incentivadores" também seria adequado. Que o diga o Cidadão Boilesen
(Henning Albert Boilesen), empresário dinamarquês radicado no Brasil
(São Paulo), entusiasta da tortura nos anos de chumbo, o que, aliás,
rendeu documentário - comentado aqui neste blog.
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