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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 08, 2013

Por que o STF pagou a viagem da jornalista do Globo



A resposta é simples: para que fossem publicadas reportagens positivas sobre Joaquim Barbosa.  JB entre o diretor do Globo e João Roberto Marinho de óculos) numa premiação: proximidade indevida JB entre o diretor do Globo e João Roberto Marinho de óculos) numa premiação: proximidade indevida 
Paulo Nogueira 


O que leva alguém a pagar uma viagem para jornalistas? 
O leitor pode se fazer essa pergunta, depois de saber que uma jornalista do Globo viajou para a Costa Rica ‘a convite’ do Supremo, para cobrir falas de Joaquim Barbosa. 
A melhor resposta é a mais simples: você paga porque deseja aparecer. Você quer que sejam publicadas reportagens sobre você. E como você pagou, está compreendido que a cobertura será positiva. 
O STF queria, portanto, que o Globo fizesse textos sobre Joaquim Barbosa que, no fundo, seriam muito mais publicidade do que jornalismo. 
O problema aí é o seguinte: qual o interesse público que justifica o STF gastar dinheiro do contribuinte numa operação destinada a engrandecer apenas e apenas Joaquim Barbosa? Nenhum. 
Mais do que as cifras envolvidas, o que chama a atenção é a atitude das duas partes: o STF por ter “convidado” e o Globo por ter aceito. Está claro que o que moveu Barbosa foi a vaidade. 
Teria ele se viciado em aparecer no noticiário, vencido pelo deslumbramento? É uma possibilidade. 
Se Brian Leveson, o discreto juiz que comandou as discussões sobre a mídia na Inglaterra, fizesse algo parecido – não faria, vamos logo dizendo – sua carreira estaria automaticamente liquidada. 
A organização jornalística que fizesse o que o Globo fez cairia em completo descrédito, também. 
O interesse público ordena que os poderes — a mídia incluída — mantenham distância rigorosa, por razões óbvias: eles devem se fiscalizar uns aos outros. 
Em nome da transparência, a mídia deveria investigar e publicar qual é o orçamento do STF. 
De quanto dispõe para despesas como aquelas relativas à viagem? É dinheiro do contribuinte. 
Mas quando existe proximidade isso jamais acontece. 
Na grande frase de Pulitzer, um dos maiores editores da história do jornalismo, “jornalista não tem amigo”
No Brasil é diferente, e é uma pena. 
Você vê o ministro Gilmar Mendes confraternizando – à luz do dia – com jornalistas como Reinaldo Azevedo. (Aquele que escreveu, contrito, que Maggie Thatcher morreu “pobre”, com sua casa em Londres avaliada em 13 milhões de libras.) 
Você vê o jornalista Merval Pereira acertando um prefácio – abjetamente bajulador — de um livro com o ministro Ayres Brito em pleno julgamento do mensalão. E depois somos obrigados a vê-los lado a lado em sessões de lançamento do livro. 
Isso tem um nome: corrupção nos costumes. 
Dias atrás, jantei com um amigo, brilhante jornalista, e ele me contou uma história exemplar. 
Seu pai, nos anos 1940 e 1950, foi juiz. Com frequência, recebia telefonemas de advogados que queriam marcar uma conversa. Jamais ele aceitou. Repito: jamais. 
“Quer conversar? Muito bem. Então vamos marcar uma conversa no Fórum, diante do escrivão”, dizia o juiz. 
Não era exatamente este tipo de conversa que eles procuravam, naturalmente. Mas é assim que um juiz deve se comportar. 
Semanas atrás, os brasileiros souberam que um advogado estava prestes a pagar um superfesta de aniversário para Luiz Fux, do Supremo. 
                                   Perdemos a noção? 
Merval, Gilmar Mendes e Ayres Brito: essa proximidade não é nada boa para o interesse público
Merval, Gilmar Mendes e Ayres Brito: essa proximidade não é nada boa para o interesse público 

O Diário confia em que vai chegar o dia em que a sociedade olhará para essas coisas e se perguntará: como toleramos tudo isso, como aceitamos todos esses insultos? Considere o interesse público. 
Imagine que vá dar no STF uma disputa bilionária entre a Globo e a Receita Federal. 
Que isenção o “Zé do Povo” — para empregar a expressão reveladora usada pelo patriarca do Globo, Irineu Marinho — pode esperar dos juízes do Supremo? 
Foi com imensa satisfação que nós, do Diário, vimos a repercussão do texto sobre a viagem patrocinada pelo STF. 
No momento em que escrevo, são quase 6 000 likes e 500 compartilhamentos no Facebook e 515 retuítes. 
Fora do Diário, o artigo foi reproduzido em todos os sites relevantes do Brasil. 
Isso é auspicioso por uma razão: mostra que a capacidade de indignação do brasileiro não está adormecida. E este é o primeiro passo para que as coisas mudem. . . 
Paulo Nogueira. Jornalista baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
do BLOG DO SARAIVA

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