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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, abril 25, 2014

“Não tinha algo melhor para protestar?” Não


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Amanhã, em São Paulo, tem uma das manifestações mais importantes do Brasil. E uma das menos compreendidas. A Marcha da Maconha.
Todo ano, todo manifestante escuta a mesma ladainha:
“Tanta coisa importante para protestar, e esse bando de vagabundo querendo fumar maconha. Porque não protestam em nome da educação, contra a corrupção, contra a violência?”

Já disse e escrevi sobre isso muitas vezes. E não me canso de explicar:
Lutar pela legalização da maconha não é simplesmente lutar pelo direito de fumar maconha. É lutar, exatamente, por uma sociedade mais justa, segura, informada, saudável e honesta. Principalmente em tempos como o nosso, de um sombrio avanço conservador e falso moralista.
A proibição da planta, e a sedimentação de ideias preconcebidas sobre ela, transcende muito a mera questão do uso dela como droga. Para mim, a ilegalidade da maconha é um dos maiores símbolos da miopia, da hipocrisia e da irracionalidade coletivas.
- Transforma a produção e o comércio de uma droga apreciada por milênios em monopólio criminal. De uma planta aliada, a maconha se torna grande financiadora da violência, da corrupção policial. Pessoas sempre usaram e continuarão usando maconha. Não é o usuário quem financia o tráfico. É a proibição. Legalizar a maconha é ter mais segurança pública.
- Encarceramos milhares de pessoas, a maioria jovens, desproporcionalmente negros. Abarrotamos cadeias, destruímos vidas, gastamos bilhões com repressão para conter uma falsa ameaça. Damos lastro ao racismo, à violência policial, à arbitrariedade de um judiciário moralista e ignorante sobre o assunto. Legalizar a maconha é, antes de tudo, questão de direitos humanos.
- Uma droga segura, pouco tóxica, perde qualquer controle de qualidade. Não conseguimos regular o comércio nem estabelecer regras para quem, e onde, pode-se consumi-la. A maconha se torna apenas mais um item na mão de comerciantes de drogas mais pesadas e perigosas. A porta de entrada para as outras drogas não é a maconha. É a boca de fumo. Legalizar a maconha é proteger quem usa e quem não usa.
- Privamos a sociedade de uma medicina poderosa e extremamente versátil. Ansiolítica, boa contra bronquite, antidepressiva, analgésica, eficaz no tratamento de diversos tipos de câncer, desperta o apetite em pacientes que sofrem com náuseas de quimioterapia e atenua reações adversas de outros tratamentos severos. A maconha pode, inclusive, ser uma ótima forma de tirar usuários de crack da dependência. Em nome de um tabu, privamos milhões de pessoas de alívio e cura. Legalizar a maconha é uma questão de saúde.
- Eliminamos o cânhamo como uma fantástica matéria prima industrial. Fibras, tecidos e papéis de alta qualidade, óleos e combustíveis, alimentos… Legalizar a maconha é estimular a economia.
- Impedimos que adultos tenham liberdade sobre seus corpos e consciência ao decidirmos quais substâncias eles podem ou não utilizar. Legalizar a maconha é uma questão de liberdade e respeito.
Tudo isso para dar um recado simples:
Você não precisa fumar. Você não precisa nem gostar de maconha para entender que o problema também é seu. E que a proibição não é uma causa só de quem fuma. Ao contrário… ao proibirmos a maconha, ela deixa de afetar apenas a vida de quem usa. Afeta a vida de todos nós.
Vejo você amanhã, a partir das 14hs, no vão livre do MASP, certo?
Eu vou estar ali no canto, ajudando na Ala dos Psicodélicos.

Bora fazer a maior Marcha da Maconha que São Paulo já viu.
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 *casadobesouro

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