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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, abril 22, 2014

 Drauzio critica religiosos por atrelarem a crença às virtudes

Drauzio Varella
"Parece que só é bom filho se
você pertencer a uma religião"
O médico Drauzio Varella (foto) criticou os religiosos por terem se apoderado das virtudes ao pregarem que é preciso ter uma religião para ser bom.

“Parece que você só pode ser bom filho, bom pai e bom marido se pertencer a alguma religião”, disse ele ao programa do Jô de terça-feira (2), quando falou de seu novo livro, “Carcereiros”.

“Se não pertencer a nenhuma religião, você é um imoral e não merece a menor consideração”, afirmou. O que, segundo ele, leva muitos ateus a esconderem a sua descrença.

O médico disse que a origem das religiões está no fato de o homem não conseguir lidar com a finitude da vida, porque “viver é muito bom”. “Imaginar que um dia a vida vai acabar é insuportável.”

Mesmo assim, disse, há pessoas que não conseguem acreditar na existência de “um deus que está lá em cima [no céu], com uma varinha, interferindo no cotidiano das pessoas”.

Para ele, as pessoas merecem respeito independentemente de sua crença ou falta dela. Mas o que ocorre, disse, é que quem não acredita em Deus acaba ficando “na contramão da sociedade”.

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