As burocracias para fazer Arte. Artistas de Rua pedem licença
Já dizia o poeta que a Arte existe
porque a vida não basta. Infelizmente não é esse o sentimento da
Prefeitura de São Paulo. Recentemente foi promulgado pelo Executivo
paulista o Decreto 54.948/14, que legisla sobre apresentação de
artistas de rua. Neste Decreto fica estabelecido que é necessária
licença, fornecida pelas subprefeituras, para que tais artistas se
apresentem.
A licença não é algo que se vai na
padaria e pede. É mais complexo do que um simples pedido. A licença
envolve, para o pavor da arte, a burocracia. Isto é, para obter esta
licença é necessário o cadastramento do artista na subprefeitura que
administre a área da apresentação, além de ter que ser fornecido o
horário, local e o tipo de equipamento que será utilizado. Esta medida
da prefeitura nada mais é do que emperrar a Arte, a qual combina com
burocracia tanto quanto a PM combina com manifestações populares.
Algumas das restrições previstas neste
Decreto são: a impossibilidade de se apresentar a menos de 5 metros de
entradas de metrô, monumentos tombados e orelhões; a menos de 20 metros
de feiras de arte, artesanato e antiguidades e a menos de 50 metros de
hospitais e zonas residenciais.
A Avenida Paulista, por exemplo, que
concentra grande quantidade de artistas, poderá ter este trabalho
impedido em quase toda sua extensão diante da existência de várias
estações de metrô, pontos de ônibus, hospitais, zonas residenciais,
orelhões, enfim. Dentre as aberrações, pobre do artista de Rua que por
diversas vezes buscou no seu estilo de vida fugir das burocracias
modernas.
A medida, por seu exagero, nos faz
refletir a sua constitucionalidade. A Constituição Federal determina, em
seu artigo 5º, inciso IX, que:
“é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
Aparentemente, o higienismo que foram referências em outras administrações públicas da capital voltam a dar as caras.
Eduardo Galeano conta uma passagem muito
oportuna: “na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido
cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É
proibido brincar com os carrinhos de porta-bagagem. Ou seja: ainda
existe gente que cante, ainda existe gente que brinca”.
Na Selva de Pedra, ainda existe gente
que faz arte. Na Selva de Pedra, ainda tem gente ama, que emociona,
provoca, distrai, alegra. De outro lado, na Selva de Pedra, ainda tem
governante que trata a arte como caso de polícia.
*AdvogadosAtivistas
Nenhum comentário:
Postar um comentário