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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, abril 04, 2014

UNIVERSITÁRIOS REPUTIAM PROFESSOR QUE FAZIA APOLOGIA AO GOLPE DE 1964 - "GOLPISTA DA REVISTA VEJA" É DETONADO POR BLOGUEIRO

Por Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania

Um vídeo se alastrou pela internet a partir do último dia 31 de março. Foi feito pelos alunos da Faculdade de Direito da USP, instalada no Largo de São Francisco, em São Paulo, desde 1903. Este post não se destina a divulgar esse vídeo, mas a expor fatos que sucederam sua divulgação.


O vídeo mostra protesto feito por estudantes contra o professor Eduardo Gualazzi, quem, no dia do aniversário do golpe de 1964, em vez de dar aula resolveu afrontar não só os seus alunos, mas o próprio Centro Acadêmico XI de agosto.
Para quem não sabe, o Centro Acadêmico XI de Agosto é o órgão representativo dos estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e recebe o nome “XI de Agosto” em homenagem à data da lei que criou as duas primeiras faculdades de Direito do Brasil, uma em São Paulo e outra em Olinda.
O XI de Agosto é o mais antigo centro acadêmico de Direito do país. Teve participação decisiva nas mais relevantes campanhas políticas nacionais, principalmente nos movimentos de defesa do Estado Democrático de Direito contra a ditadura militar que brotou do golpe de 1964.

O professor Gualazzi cometeu um desatino ao levar para leitura em sala de aula um texto de sua autoria intitulado “Continência a 1964”. O texto exalta a ditadura militar justamente em uma instituição cuja história se confunde com a luta contra essa ditadura.
A ligação da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco com a luta contra o regime militar é tão forte que, enquanto Gualazzi fazia apologia àquele regime em sala de aula, o próprio reitor daquela instituição, José Rogério Cruz e Tucci, participava de protesto contra a ditadura a algumas centenas de metros daquela Faculdade.
A intenção de Gualazzi, portanto, foi claramente a de provocar. O que ele estava fazendo, quando sua “aula” foi interrompida pela manifestação dos alunos, não era ensinar. O texto que lia não continha fatos históricos, mas a sua opinião sobre a ditadura.
Professores dão opiniões em sala de aula em todos os níveis de ensino. Isso é comum. Todavia, qualquer professor que disser opiniões em classe corre sérios riscos.
Conto uma história para explicar como é perigoso um professor confundir suas opiniões com a matéria que é pago para ensinar aos seus alunos.
Há alguns anos, uma de minhas filhas, durante aula na faculdade, ouviu de uma professora críticas duras a blogueiros de esquerda e, surpresa das surpresas, também ouviu o nome de seu pai ser incluído na acusação de que tais blogueiros seriam “pagos pelo governo”. Obviamente que ela protestou com veemência na mesma hora e, depois, fez queixa formal da professora, que foi advertida pela faculdade.
Apesar de o vídeo em questão já ter sido muito visto, vale explicar, para quem não viu, que os estudantes organizaram um protesto à altura da ousadia do professor de afrontar não só a eles, mas à própria instituição em que leciona.

O protesto começou do lado de fora da sala de aula. Estudantes simularam gritos de pessoas sendo torturadas e depois entraram cantando em classe, todos vestindo capuzes iguais aos que eram colocados nos presos políticos que a ditadura torturou e/ou matou.
Quem quiser ficar em cima do muro pode dizer que os dois lados erraram. Ainda assim, terá que reconhecer que quem cometeu o primeiro erro foi o tal professor Gualazzi. Contudo, à luz do amplo repúdio (inclusive internacional) à ditadura militar iniciada em 1964, é difícil qualificar a reação dos alunos como um erro. Foi mera reação a uma afronta.
A razão deste post é a de rebater uma versão distorcida desses fatos que está sendo alardeada pela revista Veja através de seus colunistas, entre os quais Rodrigo Constantino. Ele publicou um post em seu blog, hospedado no portal da revista, em que afirma que o tal professor da USP foi “impedido de criticar o comunismo”.
Abaixo, o comentário de Constantino no portal da Veja:
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Vejam como agem os comunistas, esses seres jurássicos que ainda procriam e se espalham, colocando em xeque a teoria da evolução darwinista. São tolerantes, democratas, a favor do debate aberto. Só que não! São autoritários, intimidam quem pensa diferente, querem calar o contraditório no grito. Impediram uma aula sobre as tiranias vermelhas e o contexto de 1964. Invadiram a sala e humilharam o professor. É apenas assim que sabem agir: covardemente e em bando
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Chega a ser bizarro que alguém que, como Constantino, apoia um regime cuja principal característica foi a censura por meios violentos se queixe do que enxerga como “censura”.
Aliás, o regime que Constantino defende não se valia de manifestações teatrais para censurar. Preferia métodos mais “eficientes”, tais como torturas, estupros, assassinatos. Sevícias inclusive a crianças e adolescentes diante dos pais, a esposas diante dos maridos etc.
Concluo externando a opinião deste blog sobre a iniciativa dos alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. É mais do que necessário que todos quantos possam não percam a oportunidade de denunciar a ditadura militar. Este país não pode mais conviver com apologias a um crime de lesa-humanidade como foi aquela ditadura.
Cada cidadão consciente dos horrores daquele período terrível de nossa história deve tomar para si a obrigação de não permitir que exaltem aquele processo criminoso desencadeado neste país há meio século. Pesquisas recentes sobre o que pensam os brasileiros divididos sobre o que aconteceu neste país. É inaceitável.
A ausência de denúncias contundentes sobre a violação da democracia e dos direitos humanos durante cerca de duas décadas é o que faz quase metade dos brasileiros julgarem de forma tão equivocada a ditadura militar.

Este blog, pois, exorta a todo aquele que sabe a verdade a que não aceite, de modo algum, apologias de quem quer que seja à ditadura. Pode ser amigo, parente, colega de trabalho etc. Se fizer apologia da ditadura deve ser contestado prontamente, mesmo ao custo da ruptura ou do esfriamento de sua relação com aquela pessoa.
Este blogueiro tem dito nas redes sociais que não tem o menor interesse em manter amizade ou qualquer outra relação com pessoas que apoiam o regime militar de 1964. Hoje há muita informação. Todos sabem dos crimes cometidos naquele período. Quem apoia aquilo, portanto, não presta. Não vale a pena manter relações com alguém assim.



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