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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 09, 2014

              O mal que 64 fez à educação brasileira


Education Brazil


Lembrar, analisar criticamente os horrores da ditadura (1964-1985) nos ajuda a entender um pouco - ou muito - o Brasil de hoje. Mesmo porque os "entulhos" dessa desconstrução nacional ainda estão por aí atravancando caminhos.
Entre eles, os caminhos da educação.
Mas, se a gente quer, de fato, colaborar na melhoria da qualidade da educação pública do país, é sempre bom tentar buscar compreender como ela chegou a este estado de ineficiência. Não para apontar culpados, mas para recuperar, entender processos e construir um entendimento mais fundamentado, mais crítico, menos superficial e mais proativo do que temos agora.
Afinal, quando foi que tudo desandou? Ou começou a desandar? Tenho pistas.
Uma delas é o acordo MEC-USAID. Vou ficar só com esta pista, neste post. E sem a intenção de esgotar o assunto. Só para começar uma conversa. Vamos lá...
Acordo MEC-USAID - uma série de convênios produzidos, nos anos 1960, entre o nosso Ministério da Educação (MEC) e a United States Agency for International Development (USAID), que previam assistência técnica e financeira dos americanos à educação brasileira. Em todos os níveis. "Modelo" de educação "vindo de fora".
Convênios - seminários/programas de treinamento + reformulação do sistema de ensino + fortalecimento da visão capitalista da educação + privatização das universidades públicas + foco excessivo na profissionalização.
Resultados - privatização do ensino + exclusão crescente das classes populares do ensino superior + institucionalização do ensino profissionalizante + tecnicismo pedagógico + desmobilização do magistério + legislação confusa + visão tecnocrata da educação + processo focado exclusivamente na formação profissional + perda do poder de mobilização política dos jovens + moralismo conservador + repressão + desvalorização da produção social do conhecimento.
Exemplos palpáveis - reestruturação do ensino, reestruturação dos currículos das escolas de primeiro e segundo graus, criação da disciplina de Educação Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política do Brasil), transformação das disciplinas de História e Geografia em Estudos Sociais, eliminação da exigência de gasto mínimo com educação e consequente queda nos investimentos.
Consequências palpáveis - esvaziamento dos conteúdos, valorização da decoreba, prejuízo na formação de senso crítico.
Resumo da ópera - educação deixa de ser um projeto social. Passa a ser um projeto a serviço da economia capitalista = concepção pedagógica autoritária e produtivista.
Bem, muitos vão discordar. Dizer que simplifiquei demais. Que há outras tantas razões pra educação estar como está. E até mesmo há os que pensam que essa ideologia americana imposta ao ensino brasileiro foi fantástica.
Que ótimo que hoje podemos pensar, falar, escrever, discordar! Sem medo!
Mas, cá pra mim... Continuo me apoiando nas palavras do Paulo, o Freire, que, sábia e oportunamente já cantava a bola:
"Seria uma atitude muito ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que permitisse às classes dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica."
E é fato que a ingenuidade passa longe de regimes ditatoriais. E é fato também que sem criticidade a educação não avança.
*http://www.brasilpost.com.br/sonia-bertocchi/o-mal-que-64-fez-a-educacao-brasileira_b_5087901.html 

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