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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, abril 17, 2014

Anexação econômica da Ucrânia pelo FMI

Anexação econômica da Ucrânia pelo FMITrinta dias após a posse do novo governo ucraniano, a União Europeia (UE) assinou com o primeiro ministro da Ucrânia, ArseniYatseniuk, um acordo de associação. Pelo tratado, a Ucrânia fica obrigada a abrir seus mercados para todos os bens e serviços produzidos pelos países europeus e aceitar “relações de assistência financeira e cooperação em segurança”. Segundo Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, o acordo dará aos ucranianos “o estilo de vida europeu”. Como os países capitalistas europeus vivem há anos uma profunda crise econômica e possuem cerca de 27 milhões de desempregados, os ucranianos não terão vida fácil pela frente.
Fruto dessa associação, na verdade, anexação, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou no dia 27 de março, que irá emprestar US$ 27 bilhões à Ucrânia. Em troca, o país será obrigado a pagar juros; terá que aumentar os preços do gás em 50% para a população e em 40% para as indústrias, reduzir as já baixas pensões pagas aos aposentados, aumentar os impostos, demitir 10% dos funcionários públicos nos próximos meses e mais 20% após as privatizações das empresas públicas, além de permitir ampla liberdade para o capital financeiro e também para monopólios norte-americanos, como Monsanto. Na prática, os ucranianos serão governados pelos técnicos do FMI, que irão “monitorar” a economia e ter poder de veto sobre as autoridades econômicas.
Plano semelhante, conhecido pelo nome de “plano de resgate”, foi adotado na Grécia pelo FMI, levando o país à completa devastação econômica com o fechamento de milhares de empresas, aumento do número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza e causando o desemprego de 28% da população ativa. Em novembro de 2008, antes do plano do FMI, o desemprego na Grécia era de 7,5%.
Mas, no momento, o maior temor da população da população ucraniana é o drástico aumento das contas de gás determinado pelo FMI. A Ucrânia tem um inverno rigoroso e temperaturas abaixo de zero durante vários meses, o que torna o aquecimento vital para a população. Com a elevação do preço do gás e as demissões já anunciadas e apoiadas pelos EUA e pela União Europeia, muitos ucranianos irão literalmente morrer de frio. Em fevereiro de 2012, quando a Ucrânia enfrentou um grande onda de frio, cerca de 130 pessoas morreram de frio no país, que tem 45 milhões de habitantes. A tudo isso, o presidente Barack Obama em reunião da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), chamou de “vitória da liberdade sobre a tirania.”
A República da Crimeia
Em 1922, foi formada a República Autônoma Socialista da Crimeia e decidido por seu povo o ingresso na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Durante a Segunda Guerra Mundial, a Crimeia foi palco de uma das mais sangrentas batalhas da Grande Guerra Patriótica. Os invasores alemães tentaram várias vezes tomar a cidade de Sebastopol, que resistiu bravamente até 1942, quando, após grandes bombardeios, os alemães dominaram a cidade. Em 1944, o Exército Vermelho libertou Sebastopol e toda a Crimeia das bestas nazistas.
Em fevereiro de 1954, NikitaKruschev, para obter apoio dos ucranianos à sua política de reimplantar o capitalismo na URSS e de ataques a Stálin, e desrespeitando a vontade do povo da Crimeia, cedeu toda a península à Ucrânia. Até hoje, a maioria da população da Crimeia é de origem russa. Logo, embora realizado debaixo das tropas do fascista Putin, não foi uma surpresa que o referendo realizado no dia 16 de março, do qual participaram mais de 80% da população da Crimeia, 97% tenham decidido pela união com a Federação da Rússia, contra cerca de três por cento que desejam se manter na Ucrânia.
Lula Falcão, diretor de A Verdade

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