"ENQUANTO MALHÃES LANÇAVA CORPOS EM RIOS, MINO CARTA BATIA BUMBO PARA MÉDICI"
Quando Mino Carta fez de sua revista um house organ
no pior sentido da palavra, infestando-a de textos panfletários e
lobbistas que secundavam a caça a Cesare Battisti deflagrada por Silvio
Berlusconi, cansei de desafiá-lo para defender sua postura inquisitorial
numa polêmica.
Adivinhava que se acovardaria, como sempre se acovardou.
Já amarelara em 2004, quando uma repórter da Carta Capital
me entrevistou sobre o 25º aniversário da Lei da Anistia e ele ordenou,
na enésima hora, que fossem suprimidas todas as referências ao meu
nome.
Também naquela ocasião mandei uma veemente contestação da atitude
despótica que, com a mesma prepotência dos censores da ditadura, ele
tomou.
Em vão: não deixou que publicassem, nem respondeu. Estava ciente de que todo seu poder de nada valeria num confronto de textos, pois eu pulverizaria facilmente sua algaravia pomposa.
Em vão: não deixou que publicassem, nem respondeu. Estava ciente de que todo seu poder de nada valeria num confronto de textos, pois eu pulverizaria facilmente sua algaravia pomposa.
A que se devia tal antipatia gratuita? É simples: ele odeia os
contestadores de 1968. Sempre nos detestou. Como boa parte dos
comunistas da velha guarda, naquele ano decisivo ele se posicionou,
junto com os partidões da Itália e da França, do outro lado da barricada. Entre as forças da ordem e os jovens rebeldes, ficou com as primeiras.
E contraiu ódio eterno pelos verdadeiros esquerdistas, que expuseram a
cumplicidade dos PC's com a burguesia (o PC francês tudo fez para minar o
apoio dos operários à revolução que já estava nas ruas, enquanto o
italiano compartilhou o poder com ninguém menos que a Democracia Cristã,
podre até a medula).
Então, mesmo sem ter identificação ou simpatia pelo Demétrio Magnoli,
não posso deixar de aplaudir as estocadas certeiras que ele deu no Mino
Carta, na Folha de S. Paulo deste sábado (5).
Começa citando a ode ao golpe de 1964 que o próprio Mino fez publicar na Veja de 1º de abril de 1970 (ou seja, o editorial que ele assinava com suas iniciais, MC), ajudando os milicos a soprarem as seis velinhas:
Começa citando a ode ao golpe de 1964 que o próprio Mino fez publicar na Veja de 1º de abril de 1970 (ou seja, o editorial que ele assinava com suas iniciais, MC), ajudando os milicos a soprarem as seis velinhas:
"Propostos como solução natural para recompor a situação turbulenta do Brasil de João Goulart, os militares surgiram como o único antídoto de seguro efeito contra a subversão e a corrupção (...). Mas, assumido o poder, com a relutância de quem cultiva tradições e vocações legalistas, eles tiveram de admitir a sua condição de alternativa única. E, enquanto cuidavam de pôr a casa em ordem, tiveram de começar a preparar o país, a pátria amada, para sair da sua humilhante condição de subdesenvolvido. Perceberam que havia outras tarefas, além do combate à subversão e à corrupção --e pensaram no futuro".
Hoje, muitos companheiros desavisados mostram deferência e respeito por
esse sujeitinho que via os Ustras e Curiós como "único antídoto de
seguro efeito contra a subversão e a corrupção" (exatamente a desculpa
esfarrapada que utilizaram para a usurpação do poder), atribuía-lhes
relutância em incidirem nas práticas hediondas (todos que passamos pelas
câmaras de tortura podemos afiançar que, sádicos como eram, eles
extraíam visível prazer do que faziam), louvava a preocupação deles com o
futuro (qual, a de assegurarem a própria impunidade antes de serem
enxotados?) e a firmeza com que botavam "a casa em ordem" (nela impondo a
paz dos cemitérios!).
Espero que doravante passem a ser mais seletivos em suas devoções, não engolindo gato por lebre.
Enfim, está certíssimo o Magnoli ao jogar na cara do Mino o seguinte:
Espero que doravante passem a ser mais seletivos em suas devoções, não engolindo gato por lebre.
Enfim, está certíssimo o Magnoli ao jogar na cara do Mino o seguinte:
"Enquanto Paulo Malhães lançava corpos em rios, Mino Carta batia bumbo para Médici. A censura não tem culpa: os censores proibiam certos textos, mas nunca obrigaram a escrever algo. Os proprietários da Abril não têm culpa (ou melhor, são culpados apenas pela seleção do diretor de Redação): segundo depoimento (nesse caso, insuspeito) de um antigo editor da revista e admirador do chefe, hoje convertido, como ele, ao lulismo, Carta dispunha de tal autonomia que os Civita só ficavam sabendo do conteúdo da Veja depois de completada a impressão".
Desta vez, mesmo que encontre uma insuspeitada e até agora inexistente
coragem, de nada lhe adiantará. Não existe resposta nem justificativa
possível.
*Naufragodautopia
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