A desinformação como estratégia
O cidadão brasileiro que assiste aos telejornais, lê regularmente um
diário e ouve os noticiosos do rádio se considera, provavelmente, um
indivíduo bem informado. Essa percepção é apanhada em pesquisas — que
alguns estatísticos chamariam mais apropriadamente de consultas — feitas
rapidamente em cima dos fatos.
É o caso típico do apanhado sobre violência contra mulheres, que tanta
polêmica provocou por causa de um erro primário cometido pelo Ipea –
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Depois de toda a celeuma, um
diretor do instituto vem a público observar que faltam dados no Brasil
para a criação de políticas públicas contra a violência sexual, entre
outras razões porque não há cruzamento de dados entre as polícias, os
institutos de medicina legal e o Ministério da Saúde.
Ora, dirá então o leitor ou a leitora atentos e críticos: se nem as
instituições oficiais conhecem a natureza e o tamanho do problema, qual é
a base de informação do cidadão anônimo que é interpelado por um
pesquisador para dar sua opinião?
Isso posto, poderíamos conversar durante horas sobre o fato evidente de
que a maior parte daquilo que é apresentado como “opinião pública” pela
imprensa não passa de um retrato instantâneo de certo estado emocional
provocado pelo impacto do noticiário. E o noticiário, como sabemos, é
definido pelo potencial de espetáculo que cada elemento de informação é
capaz de produzir. Assim, um escândalo de R$ 10 milhões no âmbito
federal é mais valioso do que um malfeito de R$ 100 milhões na instância
do município ou do estado, dependendo, é claro, de quem seja o
governante da ocasião.
Uma consulta à opinião média das grandes cidades brasileiras talvez
resultasse na percepção de que o Brasil está imerso num turbilhão
inflacionário, que o desemprego assombra as famílias e que a Petrobras
está à beira da falência. Essa interpretação falsa é induzida
diariamente pelas manchetes dos diários e pelas performances dramáticas
dos atores que trabalham como âncoras de telejornais.
Onde estaria a verdade?
Um mau negócio
A verdade, ou o ponto da espiral de conceitos que mais se aproxima
dela, certamente não se encontra nos textos da mídia hegemônica. Também
não é provável que esteja presente, em sua inteireza, naquela outra
mídia, chamada alternativa, politicamente engajada, que atua basicamente
pela lógica do confronto. É muito possível, portanto, que a sociedade
brasileira esteja contaminada pelo perigoso vírus da desinformação, que
se torna muito mais nocivo quanto maior for o valor simbólico da
opinião.
O escândalo em torno da Petrobras, por exemplo, tem base concreta num
fato demonstrado pela Polícia Federal — o envolvimento de pelo menos um
ex-diretor com o esquema criminoso cuja chefia é atribuída ao doleiro
Alberto Youssef — mas é amplificado por uma ruidosa operação de
desinformação. A sucessão de notícias, com depoimentos de protagonistas
do caso a um plenário de parlamentares ávidos por publicidade, apenas
aumenta a confusão e a desinformação.
Em nota oficial publicada na quinta-feira (17/4) no Globo, mas
não disponível online na manhã desse dia, a Petrobras oferece uma série
de esclarecimentos que os jornais omitem. O site da empresa já havia
divulgado, em junho de 2012, uma resposta a reportagem sobre o mesmo
assunto publicada no Estado de S. Paulo (ver aqui),
sob o título “Petrobras poderá ter perda milionária nos Estados
Unidos”, na qual estão disponíveis os dados apresentados nesta semana à
Câmara dos Deputados (ver aqui).
No site da Petrobras (ver aqui) é possível acompanhar toda a história da compra da refinaria, por meio do antigo blog fatosedados
e nos comunicados a investidores. Ali o leitor encontra as respostas
que a imprensa omite e conclui que foi um mau negócio, que parecia bom
na ocasião e se revelou um equívoco com a descoberta do pré-sal — como
muitos negócios que grandes e pequenas empresas costumam ter em seus
portfólios. Mas percebe também o quanto de desinformação é despejada
sobre sua cabeça diariamente pelos jornais.
Essa desinformação não decorre de um erro coletivo da imprensa: é parte de uma estratégia.
Luciano Martins Costa
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