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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 21, 2014

Desejar e acalentar o sonho de mudanças também é uma natural aspiração de todo cidadão.

PORQUE ZECA BALEIRO É O MEU PREFERIDO




Um voto crítico, mas convicto


O direito à oposição e o anseio pela alternância de poder são pressupostos básicos de um estado
democrático. Desejar e acalentar o sonho de mudanças também é uma natural aspiração de todo
cidadão.
Acho o governo Dilma criticável, como todo governo o é. Acho o PT criticável também, como todos
os partidos o são. Como todo brasileiro, anseio por mudanças que urgem, embora reconheça que há
mudanças políticas em curso neste governo que são louváveis. De qualquer modo, embora Dilma
tenha seus pontos vulneráveis, não vejo adversário digno de sucedê-la.
Mudar por mudar não me parece conveniente. Um dos argumentos mais usados pelos detratores da
atual presidente e seu partido é o de que “estão há muito tempo no poder”. Esquecem que os tucanos
há 20 anos ocupam o trono do governo de São Paulo (e há tempos vêm cometendo pecados sem
perdão como o desmando irresponsável que gerou a crise de abastecimento de água no estado), isso
sem falar nas oligarquias do Maranhão, há 48 anos roendo o osso do poder, e a de Alagoas, há outros
tantos anos se perpetuando na política local (e estes casos nem devem ser levados em conta, pois, além
de antidemocráticos, são imorais).
Um governo comprometido socialmente deve dirigir o olhar primeiramente aos desfavorecidos, aos
excluídos do jogo social, isso é óbvio. Este governo que aí está fez isso. E o que não faltam no Brasil
são pessoas vivendo em quadro de pobreza extrema, privadas dos direitos básicos de cidadão, massa
de manobra barata para oligarcas usurpadores. Quando o buraco é muito fundo – e o fosso social no
Brasil é pra lá de fundo -, não há como não ser assistencialista, infelizmente. Uma das frases feitas que
mais me indignam neste pobre debate político (debate entre aspas) é a máxima hipócrita de que “é
melhor ensinar a pescar do que dar o peixe”. Ora, como ensinar a pescar um sujeito devastado pela
fome e pela doença?
Outro argumento usado à exaustão é o da corrupção, e não podemos nos enganar - todos os partidos,
quando ocupam o poder, caem em tentação, para nossa desgraça. A diferença básica neste Fla-Flu de
corruptos é que os do PSDB seguem impunes, os do PT nem tanto. Só a punição exemplar desses
bandidos somada à vigilância social mais ferrenha poderá fazer banir esta "cultura da corrupção" que
hoje impera no país, ou ao menos reduzir os seus índices.
Não sou petista nem sou apegado a partidos ou candidatos. Voto com independência. No primeiro
turno, meu voto foi dividido entre candidatos do PSOL, do PSB e do PT. Isto me parece coerente. Se
nos próximos anos aparecer uma grande e confiável liderança política de outro partido, não hesitarei
em mudar meu voto, desde que seu projeto tenha viés socialista, único projeto político que penso ser
viável no mundo de hoje. Isto também me parece coerente.
O que não me parece coerente é ver a ex-candidata Marina Silva, arauta da “nova política”,
anunciando seu apoio à candidatura Aécio Neves. Todos sabemos que a sua trajetória de luta contra os
barões malfeitores do Acre a aproxima ideologicamente mais do PT, e não foi à toa que ela assumiu a
pasta do Meio-Ambiente no governo Lula. Isto que ela agora faz é velha politicagem, jamais nova
política. Sabemos para onde miram os políticos do PSDB, e no que vai resultar um novo governo
tucano (e faço questão de afirmar o mesmo repúdio às alianças eleitoreiras do PT com velhos caciques
paroquiais como Sarney, Collor e Calheiros).
Se a intenção de parte do eleitorado era destronar o PT e Dilma a qualquer custo, então que votasse
num partido mais à esquerda (sim, eles existem) e não num partido que reza na cartilha do datado
neoliberalismo que levou à convulsão social e ao desemprego massivo países europeus sólidos como
França e Espanha, e que quase levou o Brasil à bancarrota, na era FHC. Este, por sua vez, sociólogo
pós-graduado na Universidade de Paris, tem como hobby disparar frases infelizes, como a recente
declaração preconceituosa e separatista sobre os nordestinos e seu voto, segundo ele, catequizado.
Com todo o respeito que possa merecer, o ex-presidente está na Idade Média da Sociologia.
Avançamos muito nos últimos anos em termos de “pensamento social”. Não há porque retroceder.
Votarei em Dilma e, caso ela seja eleita, terá em mim um crítico implacável de seu governo. É assim
que entendo o que chamam de democracia. O resto é balela.

P.S.: Peço aos internautas que queiram comentar, criticar ou divergir do meu texto, que o façam
civilizadamente, com argumentos embasados, não com ofensas ou baixarias. De baixo, já basta o nível
do debate dos nossos candidatos na corrida eleitoral.

Zeca Baleiro
*MilitânciaViva

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