Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, março 19, 2015

O cálculo político é simples: o senador mineiro, que tenta de todas as formas alimentar a instabilidade política no País, não pretende esperar por 2018; Aécio sabe que, daqui a quatro anos, outros nomes dentro do próprio PSDB, como os governadores Geraldo Alckmin e Marconi Perillo, assim como o senador José Serra, terão mais força para postular uma candidatura presidencial; nesse cenário, Aécio teria que retornar a Minas, onde recomeçaria do zero e enfrentaria o governador Fernando Pimentel que ainda tem quatro anos para desmontar seu 'choque de gestão'; resumindo, o que hoje move o carbonário da política brasileira é, sobretudo, seu interesse pessoal

247 - Desde que perdeu as eleições para a presidente Dilma Rousseff, em outubro do ano passado, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) já tentou de tudo. 
Primeiro, por meio do braço direito Carlos Sampaio (PSDB-SP), sugeriu erro na contagem dos votos e pediu auditoria nas urnas eletrônicas. Depois, tentou evitar a diplomação da presidente reeleita. Além disso, questionou a prestação de contas da campanha presidencial do PT, que foi aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral.
A mais recente manobra de Aécio é o pedido para que o Supremo Tribunal Federal abra uma investigação contra a presidente Dilma – pedido este que deve ser arquivado pelo ministro Teori Zavascki, como já ocorreu com uma demanda anterior, apresentada pelo PPS (saiba mais aqui).
Aécio tem apostando tanto na instabilidade que recebeu um puxão de orelhas até do ex-deputado e ex-vereador Agnaldo Timóteo, que, ao vivo, o acusou de querer incendiar o país. "Esse playboyzinho de Copacabana e Ipanema está agindo como moleque. Esse moleque que governou Minas Gerais quer que o país pegue fogo. Eu não quero, eu não quero que meu País pegue fogo", afirmou (leia mais aqui).
Deixando de lado a frustração por ter perdido por uma margem pequena a última disputa presidencial, o que parece mover o senador mineiro é tão-somente seu interesse pessoal. Aécio sabe que, em 2018, terá que recomeçar sua escalada política praticamente do zero, retornando a Minas para uma nova disputa pelo governo estadual.
Concorrência interna
Sim, porque no PSDB há pelo menos três nomes melhor posicionados para a disputa presidencial de 2018. O mais óbvio é o do governador paulista Geraldo Alckmin que já declarou, mais de uma vez, que a presidente Dilma foi eleita e deve cumprir seu mandato até o fim. O discurso dos 'alckmistas' já está até pronto. Em 2014, São Paulo deu a Aécio tudo o que podia dar. Ele só não venceu porque foi incapaz de ter a maioria dois votos em Minas Gerais. Ou seja: a missão partidária de Aécio em 2018 será recuperar Minas.
Entre os governadores, Marconi Perillo é outro que irá postular a candidatura presidencial após 16 anos à frente de Goiás, período em que o estado se destacou pela geração de empregos e pela industrialização e pelos avanços na educação básica – no ano passado, Goiás ficou em primeiro lugar na avaliação do Ideb. No mínimo, Marconi irá abrir, no PSDB, uma frente em defesa da realização de prévias – aliás, ele é outro político de peso que também já se manifestou em defesa da legalidade e do mandato da presidente Dilma.
Além de dois governadores com vários mandatos nas costas, Aécio terá outro concorrente de peso: ninguém menos que o senador José Serra (PSDB-SP), que, numa entrevista recente, não descartou uma nova candidatura presidencial. Embora bata forte no governo Dilma e no PT, Serra hoje parece mais preocupado em liderar uma agenda propositiva no Senado do que em aderir ao movimento golpista.
Isso significa que, entre os cardeais tucanos, o principal apoio de Aécio vem hoje do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que também se move pelo ressentimento em relação ao PT e ao ex-presidente Lula. É pouco para garantir a Aécio o posto de candidato natural em 2018.
Concorrência externa
Assim como terá dificuldades internas, dentro do próprio PSDB, Aécio não terá vida fácil em Minas Gerais, onde o governador Fernando Pimentel, do PT, tem quatro anos pela frente para desmontar o seu alardeado 'choque de gestão'.
Em movimentos recentes, mas sutis, Pimentel já sinalizou que está pronto para o combate. Rejeitou a proposta de orçamento apresentada pelo governo anterior, apontando que havia receitas superestimadas e despesas subestimadas. Também contratou como 'xerife' Mário Vinícius Spinelli, que foi responsável, na prefeitura de São Paulo, pela descoberta de vários esquemas de corrupção.
Neste tema, Aécio viveu um constrangimento quando da divulgação da chamada 'lista de Janot'. Ele foi citado pelo doleiro Alberto Youssef como beneficiário de um suposto esquema de propinas em Furnas e seu caso ainda pode ser reaberto pelo procurador-geral da República (saiba mais aqui).
Apesar disso, o senador mineiro tem pautado um discurso agressivo contra a presidente Dilma Rousseff porque sabe que, até 2018, não terá vida fácil nem dentro do PSDB nem fora. O lhe interessa, portanto, é algum tipo de atalho como vem sendo tentado desde a derrota na disputa presidencial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário