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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 04, 2015

legado fatídico dos crimes de guerra dos EUA no Vietnã

Terror de Estado. Agente Laranja e o legado fatídico dos crimes de guerra dos EUA no Vietnã


Durante dez anos, Força Aérea americana bombardeou o país asiático com toxinas poderosas.


No Deutsche Welle 

 
Seus efeitos vão de câncer a malformações físicas e mentais.


File:US-Army-APC-spraying-Agent-Orange-in-Vietnam.jpg 
O codinome "Operação Ranch Hand" (ajudante de fazendeiro) soa bastante inócuo. 
Mas nada poderia estar mais longe da verdade. 

Sob essa capa, de 1961 a 1971 foram despejados cerca de 80 milhões de litros de herbicidas e desfolhantes sobre o Vietnã do Sul.



Visando destruir as safras do inimigo e dizimar as selvas em que se escondiam os vietcongues e o Exército do Vietnã do Norte, cerca de 16% do território do país foi bombardeado com toxinas.
Entre elas, a mais utilizada era a dioxina, apelidada agente laranja. Os pilotos da Força Aérea dos Estados Unidos o despejavam abundantemente sobre a vegetação, na proporção de até 14 quilômetros em menos de cinco minutos. 
 
E, desse modo, criaram um problema cujas raízes não eram imediatamente visíveis: o impacto dessa carga tóxica sobre a saúde.
Passou-se a pesquisar uma possível correlação nos anos seguintes aos bombardeios químicos, quando tanto veteranos de guerra americanos como a população vietnamita começaram a acusar taxas elevadas de câncer, distúrbios digestivos, respiratórios e epidérmicos – assim como abortos espontâneos e crianças com defeitos congênitos.
O exame das especificações do agente laranja não forneceu indicações sobre nada capaz de provocar tal catálogo de sintomas. 


Porém, a análise minuciosa de amostras de produção demonstrou que o principal composto patogênico poderia ser um subproduto da dioxina.
Exatos 40 anos após o fim da guerra que, calcula-se, matou 3 milhões de pessoas, as questões relativas à potência e alcance dessa substância tóxica seguem em aberto. 

 
E são cada vez mais difíceis de responder, à medida que nascem no Vietnã uma segunda e, agora?... 
uma terceira geração de crianças apresentando alta incidência de deficiências como síndrome de Down, paralisia cerebral e desfiguração facial extrema.
Quem é vai pagar por isso?
Jeanne Mager Stellman, especialista da Universidade de Colúmbia no uso do agente laranja e outros herbicidas durante a Guerra do Vietnã, vem se engajando há décadas pelo reconhecimento das implicações das dioxinas. 
Uma existência inteira comprometida...

No entanto, ela se queixa que a falta de pesquisas abrangentes dificulta muito definir com precisão a natureza de uma das substâncias mais tóxicas conhecidas.


"Apesar de toda a certeza que todos associam às enfermidades e defeitos congênitos constatados, não conseguimos definir de fato quais são os impactos de longo prazo", comenta. "O Agente Laranja faz soar o alarme, mas os outros herbicidas usados não eram benignos."

Ela cita o Agente Azul, que contém arsênico e inibe a absorção do ácido fólico – forma da vitamina B cujo consumo é aconselhado às grávidas para assegurar o bom desenvolvimento fetal.


Richard Guthrie, analista de técnicas da guerra química e biológica, confirma que é importante não esquecer os efeitos dos agentes Azul e Branco, ambos também despejados sobre o Vietnã a partir de 1966.
Ao mesmo tempo, porém, ele se diz convencido de que o Agente Laranja teve impacto duradouro sobre a saúde da população vietnamita.


Guthrie também considera "muito plausível" a dedução de que a dioxina seja a causa direta dos defeitos congênitos documentados até hoje no país.
Arsenal  de Agente Laranja pertencente ao Estado Terrorista Norte Americano

Nick Keegan, diretor de desenvolvimento econômico da Fundação Kianh, no Vietnã, não concorda inteiramente. Ele trabalha com crianças excepcionais do distrito de Dien Ban, onde elas são mais de mil, numa população total de 200 mil. Há indícios de que a área sofreu bombardeios pesados durante a guerra.


Segundo ele, mesmo os pais atribuem as deficiências a causas diferentes. "Temos lidado com famílias que acreditam que [as deficiências] sejam diretamente relacionadas ao Agente Laranja. Mas algumas, por razões culturais ou espirituais, acham que tiveram má sorte."


Ainda assim, Keegan admite que a alta incidência e os dados históricos o levam a parar e pensar, para "questionar os fatores contribuintes".


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma vez que as dioxinas penetram no corpo, elas perduram por muito tempo, devido a sua estabilidade química e capacidade de serem absorvidas pelo tecido adiposo. Isso lhes confere uma meia-vida – o tempo necessário para sua concentração no organismo se reduzir à metade – de sete a 11 anos.


Jeanne Stellman diz que essa dissolução gradual torna a pesquisa ainda mais difícil. Ela insiste que a questão científica crucial sobre a dioxina é se ela exerce efeitos epigenéticos – alterações ao DNA e, possivelmente, ao RNA – que não são mutações, mas sim outras mudanças na estrutura química.


Essencial é também saber se essas mudanças podem ser transferidas de uma geração para a seguinte. "No caso do Vietnã, quanto dessa alteração epigenética transita pela linha paterna e é herdável?", indaga a pesquisadora da Universidade de Colúmbia.


Entretanto, ela também enfatiza a necessidade de considerar outros fatores – como subnutrição, estresse, moléstias parasitárias e o atual emprego de pesticidas –, ao tentar compreender os padrões relacionados aos defeitos congênitos. Em alguns desses casos, já foram estabelecidas conexões.


Entretanto uma pesquisa abrangente seria única maneira de entender exatamente o que está acontecendo no Vietnã e até que ponto o Agente Laranja é um fator nas deficiências infantis, defende Jeanne Stellman. Isso não exigiria investimentos significativos, mas sim engajamento político. E ele é insuficiente.


"Há bloqueio intencional por parte de alguns elementos do governo dos Estados Unidos", acusa, apontando também a presença de "forças potentes" opostas a uma investigação abrangente no Vietnã. Como exportador de peixe-gato e outros gêneros alimentícios, aquele país do Sudeste Asiático não quer dar ao mundo a impressão de estar poluído com dioxina.


Diante desse contexto, ela questiona se os estudos necessários jamais chegarão a ser realizados. "Quanto mais esperamos, mais difícil a coisa se torna. Enquanto todo o mundo discute 'quantos anjos cabem na cabeça de um alfinete', ninguém está abordando a questão básica, em si. É tudo uma enorme tragédia humana."

*Militanciaviva
**m

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