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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, agosto 02, 2010

SERRA PERDE ONDE ALCKMIN PERDEU; E NÃO IGUALA A VANTAGEM ONDE ELE GANHOU

2010 X 2006



As pesquisas divulgadas pelo Ibope revelam uma aproximação do cenário eleitoral deste ano com o resultado das urnas no primeiro turno de 2006, vencido pelo presidente Lula...Alguns dos maiores colégios eleitorais, como Minas, Rio e SP, que somam 41,5% dos votos, mostram uma distância entre Dilma e Serra semelhante à diferença entre Lula e Alckmin em 2006. No Rio, a diferença de 20,3 pontos a favor de Lula em 2006 (49,1% a 28,8%), ficou em 19 pontos pró-Dilma (46% a 27%). Em Minas, Lula venceu Alckmin no primeiro turno de 2006 por 10,2 pontos (50,8% a 40,6%). Agora, sua candidata derrotaria Serra por 44% a 32% - 12 pontos. Em São Paulo, em contrapartida, Serra ainda não conseguiu o mesmo apoio de seu antecessor (17,4 de vantagem em 2006 contra uma diferença de 11 pontos hoje). Em outros regiões e estados importantes, exceto no Espírito Santo --onde Lula levou a dianteira em 15,8 pontos e Dilma ainda está dois pontos abaixo de Serra-- quando há diferença frente ao padrão de 2006, a tendência é essa: derrota de Serra, como no Distrito Federal --onde Alckmin teve vantagem de 7 pontos e hoje Dilma tem 11 de supremacia--, ou o estreitamento da liderança tucana em relação ao que obteve Alckmin há quatro anos.

Emir Sader

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