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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Os auxiliares da imprensa

Quem lê jornal encontra com bastante frequência nas notícias as expressões “segundo auxiliares do governo”, “de acordo com interlocutores do governo” ou “informou uma fonte do governo”. É o que se chama de “off”, quando a informação é atribuída a uma fonte não revelada.
O problema é que isso, muitas vezes, serve apenas para veicular informações que interessem a determinadas pessoas ou grupos.
Hoje, no Estadão, lemos que “auxiliares do governo” dizem que a presidenta Dilma Rousseff pretende deixar na gaveta a proposta de regulação da mídia brasileira.
Ora, quem vaza esse tipo de informação em off para imprensa não são auxiliares da presidenta. São auxiliares da imprensa, da política dos donos dos jornais, seja qual for a posição da presidenta e do governo sobre o assunto.
É um direito de Dilma tomar a decisão que julgar mais adequada.
O que não se pode aceitar é essa tática da imprensa – que resiste por todos os meios a qualquer tipo de regulação, algo já existente em diversos países democráticos do mundo, tanto desenvolvidos quando em desenvolvimento – de tratar as informações de modo não transparente.

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