Como os EUA montaram centros de tortura em todo o Iraque (e o resultado disso)
Nos 10 anos da Guerra do Iraque, um documentário revelador sobre um dos maiores equívocos da História recente.
James Steele (dir.), criador de centros de tortura no Iraque, em sua única foto
Tem coisas que só o bom jornalismo pode fazer por você.
O jornal inglês The Guardian investiu 15 meses numa investigação feita em parceria com o braço da BBC no mundo árabe.
O
resultado é um documentário e uma série de reportagens sobre o
envolvimento de veteranos das chamadas Guerras Sujas na América Latina
na Guerra do Iraque – um dos equívocos mais tenebrosos na história da
política externa americana.
Donald Rumsfeld |
O
personagem central é o coronel James Steele. Sob o comando de Donald
Rumsfeld, então secretário de defesa de George W. Bush, e do diretor da
CIA, David Petraeus, ele e o coronel James Coffman criaram centros de
detenção para lidar com os insurgentes no país.
Também organizaram milícias paramilitares – o mesmo padrão de atuação usado em El Salvador e Nicarágua nos anos 80, quando os EUA tentaram derrubar governos de esquerda. Steele tinha 58 anos à época e era, oficialmente, um “consultor”.
Também organizaram milícias paramilitares – o mesmo padrão de atuação usado em El Salvador e Nicarágua nos anos 80, quando os EUA tentaram derrubar governos de esquerda. Steele tinha 58 anos à época e era, oficialmente, um “consultor”.
Ele
e Coffman montaram vários centros de detenção, financiados pela
administração Bush. O general iraquiano Muntadher Al-Samari — um tipo
sinistro, com mais joias pelo corpo que um bicheiro – contou que cada um
desses campos tinha seu comitê de interrogatórios, “formado por um
oficial da inteligência e oito soldados. Todas as formas de tortura
foram usadas para forçar os presos a confessar, como choques elétricos,
tirar as unhas e espancamentos”. Segundo Al-Samari, não há provas de que
Steele e Coffman participaram pessoalmente de todas as sessões, mas
estavam presentes onde elas aconteciam.
Uma década depois, o Iraque é aliado do Irã
Al-Samari
disse que as torturas eram rotina. “Eu me lembro de um rapaz de 14 anos
que foi amarrado a uma coluna, com as pernas acima da cabeça. Seu corpo
estava azul por causa das pancadas que havia tomado com emprego de
cabos de aço”. As acusações implicam pela primeira vez o general
Petraeus, que renunciou em novembro, em violações de direitos humanos.
O
fotógrafo Gilles Peress e o repórter Peter Maass lembram que viram
sangue e ouviram gritos desesperados nos complexos. “Alguém gritava:
‘Alá, Alá, Alá!’ Não era êxtase religioso ou algo assim, mas berros de
dor e terror”, diz Maass.
A
Guerra do Iraque fará 10 anos no dia 20 de março. Rumsfeld disse que
ela “libertaria o povo para viver suas vidas e fazer coisas
maravilhosas. E é isso o que está acontecendo”. Hoje, o Iraque é um dos
maiores aliados do Irã. Na semana passada, o primeiro-ministro Nouri
Al-Maliki se recusou a participar do embargo americano por causa do
programa nuclear iraniano. Calcula-se que 136 iraquianos foram mortos em
fevereiro, 177 em janeiro. No ano passado, foram 4471 civis.
Recentemente, uma bomba em Bagdá matou quatro.
Steele vive no Texas, onde dá palestras sobre contraterrorismo.
Por Kiko Nogueira no DCM
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