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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, março 06, 2013

O depoimento da ‘namorada americana’ da Venezuela

A jornalista Eva Golinger escreveu sobre o homem cuja obra acompanhou de perto.
Eva
Eva
A jornalista americana Eva Golinger conheceu Chávez na ONU. Acabaram se tornando amigos. Chávez dizia que ela era a “namorada americana” da Venezuela. Eva escreveu o artigo abaixo sobre seu amigo Chávez.
A primeira vez que encontrei Hugo Chávez foi na Organização das Nações Unidas, em Nova York, em janeiro de 2003. Ele me perguntou o meu nome, como se estivéssemos conversando entre amigos que estivessem começando a conhecer um ao outro.
Quando eu disse “Eva”, ele respondeu: “Eva, realmente?”  ”Sim, Eva”,  eu disse. “Meu irmão se chama Adão”, disse ele, acrescentando: “Minha mãe queria que eu fosse uma menina para que ela pudesse me chamar de Eva, e olha, eu apareci!” Ele sorriu e riu com aquele riso dele, tão puro e sincero e contagiante  para todos aqueles por perto.
Ele apareceu, maior que a vida, com um imenso coração cheio de seu povo, pueblo, batendo pela pátria. Um ser humano apareceu, com uma grande capacidade de persistir e ficar desafiadoramente em face dos obstáculos mais poderosos.
Hugo Chávez sonhou o impossível e conseguiu. Ele assumiu a responsabilidade pelas tarefas grandiosas e árduas que permaneceram por fazer a partir do momento da independência, aquelas que Simon Bolívar não poderia alcançar devido às forças adversas contra ele.  Chávez cumpriu essas metas, transformando-as em realidade.
A Revolução Bolivariana, a recuperação da dignidade da Venezuela, a justiça social, a visibilidade e o poder do povo, a integração latino-americana, a soberania  nacional e regional, a verdadeira independência, a realização do sonho da Pátria Grande, e muito, muito mais. Estas são conquistas de Chávez, o homem que apareceu apenas como aquele irmão de Adão.
Há milhões de pessoas ao redor do mundo que são inspiradas por Hugo Chávez. Chávez levantou a voz sem tremer diante dos mais poderoso,  disse a verdade – aquela que os outros têm medo de dizer -,  não se ajoelhou diante de ninguém, caminhou com dignidade firme, cabeça erguida, com as pessoas, el pueblo, guiando-o e um sonho de uma nação próspera, justa e plena. Chávez deu a seu povo a força coletiva para combater a injustiça, a desigualdade, para  acreditar que um mundo melhor não é apenas um sonho, é uma realidade possível.
Chávez, um homem que poderia passar o tempo na companhia do homens mais ricos e poderosos do mundo, preferiu estar com aqueles que mais precisam, sentindo sua dor, abraçando-os  e encontrando maneiras de melhorar suas vidas.
Chávez uma vez me contou uma história, ou a contou muitas vezes como ele sempre fazia. Ele estava viajando de carro com sua comitiva, nas planícies venezuelanas de Los Llanos, naquelas longas estradas que parecem continuar infinitamente. Um cão de repente apareceu no lado da estrada, coxeando com uma perna ferida. Chávez ordenou que o carro parasse e saiu para pegar o cachorro.
Ele abraçou o animal ferido, dizendo que tinha  que ser levado ao veterinário. “Como podemos deixá-lo aqui sozinho e ferido”, perguntou. “É um ser, é uma vida, ela precisa ser cuidada”, disse ele, demonstrando sua sensibilidade. “Como podemos nos chamar socialistas sem nos importarmos com as vidas dos outros? Precisamos amar, precisamos cuidar de todos, incluindo os animais, que são seres inocentes. Não podemos virar as costas a ninguém.”
Quando ele disse aquel a história eu chorei. Chorei por causa do meu amor por animais e pelos maus-tratos que sofrem generalizadamente, e chorei também por ouvir alguém como ele, Chávez, dizer coisas para despertar a consciência sobre a necessidade de cuidar das pessoas que compartilham de nosso planeta.
Mas também chorei porque Chávez confirmou algo naquele momento que eu já sabia, algo que eu senti no meu coração, mas de que não tinha certeza em minha mente. Chávez confirmou sua simplicidade, sua sensibilidade e sua capacidade de amar. Ele confirmou que era um homem cujo coração sente dor quando vê um animal ferido. Um homem que não só sente, mas age. Isso é o que ele foi.
Quando Chávez assumiu a presidência da Venezuela, o país estava mancando. Ele tinha visto as suas feridas e sabia que tinha que fazer todo o possível para ajudar. Ele tomou a Venezuela em seus braços, embalou-a de perto, acalmou-a,  e buscou fazer o melhor. Ele deu tudo o que tinha dentro dele – o seu suor, alma, força, inteligência, energia e amor – para alterar a Venezuela com  crescimento, dignidade, soberania, e a construção do sentido de nação.
Ele olhou por sua pátria de dia e de noite, nunca a deixando sozinha. Ele descobriu a beleza, a força, o potencial e a grandeza de sua pátria. Ele a ajudou a crescer forte, bonita, visível e feliz. Ele comandou seu renascimento com força e paixão, com o poder do povo e uma pátria digna.
Chávez deu tudo de si mesmo e não pediu nada em troca. Hoje, a Venezuela cresce e floresce, graças a seu compromisso e visão, graças à sua dedicação e determinação, graças ao seu amor.
Graças a Deus que você apareceu, Chávez.
Leia mais: A namorada americana da Venezuela.
*Diariodocentrodomundo

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