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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, maio 02, 2013

Utopia do absurdo

 do Bourdoukan
Este planeta tão belo
começa a ficar purulento
vítima de um sistema putrefato
que não mede conseqüências
para atingir seus objetivos.
Privilégios para alguns,
exclusão para todos.
Os bolsões de miséria
não obedecem a fronteiras.
Estão espalhados e se alastram
diariamente pelos quatro cantos.
Não há diferença entre os mundos,
sejam eles, terceiro, segundo ou primeiro.
Ocidente ou Oriente.
Exclusão e globalização.
As misérias desconhecem
Geografia e ignoram o Altíssimo.
Somos todos vítimas dos privilégios.
Anuncia-se a agonia do planeta.
Estaria nos estertores
aguardando, se nada for feito,
o disparo fatal.
E, com certeza, não serão os ecologistas a salvá-lo.
Aliás, muito podem fazer os ecologistas
se puderem salvar a humanidade.
Porque dela depende a salvação do planeta.
Salve-se a humanidade e o planeta será salvo.
Mas há aqueles que ainda
acreditam na fé e crêem
que ela remove montanhas.
O pão nosso de cada dia cada vez mais escasso.
É preciso libertar Deus da religião
e a humanidade de Deus!
Quem se habilita?
Salvar o planeta sem pensar
em salvar a humanidade,
eis a utopia do absurdo.
*GilsonSampaio

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